O Ciclismo e o Atletismo foram modalidades a que se dedicou Luís Manuel Borges, recordando que tinha capacidades físicas para ter ido mais longe, o que teria acontecido noutro meio que não o Faial. Além do gosto e dos títulos (locais e regionais) conquistados na corrida, estes desportos também tiveram influência directa no seu desempenho como Jogador de Futebol (INATEL e federado) ao longo de mais de 20 anos e como Árbitro durante uma década.

O convite endereçado em 2010 para integrar o Conselho de Arbitragem da Associação de Futebol da Horta (CA-AFH) foi uma forma de continuar ligado ao Desporto e de dar o seu contributo como Dirigente, o que tem sido sucessivamente renovado até hoje.

Cristina Silveira

Se somarmos o tempo que Luís Manuel Borges dedicou ao Desporto, como Praticante, Árbitro e Dirigente, já ultrapassou os 40 anos, o que, nalguns casos, se pode dizer que é uma vida!

Este Faialense começou no Futebol aos 16 anos, como Juvenil, no Fayal Sport Club – pois morava na Conceição – mas a mudança para o lugar dos Espalhafatos (freguesia da Ribeirinha) fez com que rapidamente tenha envergado as cores do Salão, no INATEL, o que não foi propriamente fácil, como ele próprio nos conta nesta entrevista, recordando, também, outras passagens do seu trajecto desportivo.

Foi no Fayal Sport que Luís Borges começou a jogar Futebol a sério e este teria sido o seu Clube caso as circunstâncias não o tivessem levado a mudar de freguesia

“Com muita pena minha, só fiz uma época no Fayal (como federado). Já como Sénior, joguei no INATEL e, mais tarde, como federado, no Grupo Desportivo do Salão. São realidades totalmente diferentes. No INATEL, praticamente não havia treinos, ao passo que na Associação de Futebol da Horta (AFH) a exigência já era outra. Contudo, tenho de salientar que o INATEL contribuiu muito para o desenvolvimento do Desporto nas nossas freguesias e quem ganhava as provas a nível regional ia representar os Açores ao Continente português. Considero que nesse tempo havia mais competição e mais gente não só a praticar, mas também a assistir. Nos primeiros anos, os campos de Futebol estavam cheios! No entanto, também joguei com pouca gente a ver, isto já no fim da minha carreira. Durante muito tempo a adesão foi em massa e as condições existentes nada tinham a ver com as de agora. Penso que se as condições tivessem sido outras nesses anos recuados, hoje em dia teríamos muito mais jogadores nos nossos Clubes.

Seria importante termos o escalão Sub-23

Olhando para o que se passa a nível nacional, julgo que os nossos Juniores não são aproveitados. O que quero dizer é que, como há um grande número de Juniores que não têm lugar nas equipas de Seniores muitos acabam por desistir. Afigura-se crucial fazermos equipas de Sub-23, tal como acontece no Continente, no sentido de mantê-los a jogar Futebol. Era bom que tivéssemos um escalão intermédio para quando estes jovens saem de Juniores e passam a Seniores poderem dar continuidade à modalidade. Como os jogadores Seniores aguentam vários anos, não é fácil substituí-los. Portanto, os Juniores que não vão para a universidade nem têm lugar numa equipa Sénior, abandonam a modalidade. É nesta altura que os perdemos definitivamente, o que é um contra-senso atendendo a que trabalhamos para formar jogadores e chegados a esta fase adulta não lhe é dado qualquer enquadramento no sentido de prosseguirem o Futebol. Estou consciente de que isto acarreta mais custos para a AFH, mas os nossos objectivos passam por aumentar o número de atletas federados, trabalhando para o crescimento do Futebol e do Futsal. Queixarmo-nos de que temos falta de jogadores e não aproveitar/apoiar os que existem é algo que não faz sentido.

Os jogadores Faialenses têm qualidade, mas precisam de uma atitude diferente

No meu tempo, quando jogávamos com equipas mais fortes aí é que dávamos o tudo por tudo para vencer. Levávamos o Futebol a sério e mesmo praticando outras modalidades o “desporto-rei” sobressaía. Havia mais garra! Sinto isso.

Noto que os jogadores Faialenses têm qualidade, mas precisam de uma atitude diferente. Entrar em campo a pensar que vão perder é meio caminho andado para a derrota. No Salão, nunca tivemos esse complexo. A nossa ideia era sempre esta: “Vamos ganhar! Vamos ganhar!” Entrávamos moralizados que íamos ganhar. E se perdêssemos, paciência. Os jogadores do Faial nem sempre fazem por merecer a vitória.

Ciclismo e Atletismo ajudavam no Futebol

A primeira modalidade que pratiquei foi Ciclismo, ainda antes de ir para a tropa. Quando engrenei no Futebol já fazia Ciclismo e Atletismo. E em ambas as modalidades representei o Faial nos Regionais, em São Miguel. Estive 16 meses na Terceira no cumprimento do serviço militar e dediquei-me ao Atletismo, no Clube Independente, em 1984, aproveitando para manter a actividade e a forma. Corri com o Dionísio Castro e fui considerado o melhor açoriano na altura. Num total de 100 atletas, fiquei em 25º lugar. Gostava de Atletismo e tinha capacidades para ter ido mais longe, o que, garantidamente teria acontecido noutro meio que não o Faial.

Quando fomos Campeões no Salão, na década de 90, eu praticava estas três modalidades. Corria ao sábado os 10 mil metros e no domingo jogava Futebol. Naturalmente que todo este treino ajudava imenso no Futebol, mas se já era difícil manter uma modalidade, então três!... Por isso, o sr. Manuel Lino, que era o meu treinador nessa altura, avisou logo: “Ou é Futebol ou é Atletismo”. E eu fui para o Futebol.

(…) na linha também ouvíamos muitas “boquinhas”

Futebol: Trio de Arbitragem chefiado por João Almeida, com João Inácio (à esquerda) e Luís Borges (à direita) como árbitros assistentes

Fotografia: Facebook de Luís Rosa

Quando terminei o meu percurso como Jogador de Futebol, tinha perto de 38 anos. Poderia ter jogado mais tempo, pois tinha capacidade física para tal, mas optei pela Arbitragem, atendendo a que havia uma grande insistência para eu apitar. Mas confesso que gostava mais de jogar. Arbitrar dá muito mais chatices. O público em si não sabe as regras e só refila com os árbitros, o que nos deixa um bocado combalidos. Cheguei a receber ameaças, mas nada de grave. Geralmente, os árbitros é que pagam tudo, mas não podia queixar-me muito tendo em conta que nunca fui árbitro principal, mas, sim, Árbitro Assistente. Ainda assim, na linha também ouvíamos muitas “boquinhas”. Mesmo sabendo de antemão que ia ser assim, nunca é agradável sermos alvo de críticas e comentários pouco ou nada abonatórios. Admito que no início me custou, mas depois já não ligava. Com o hábito, torna-se diferente. Comecei a arbitrar logo depois de ter deixado de jogar e mantive-me até aos 50, embora o limite fosse os 48 anos. O gosto levou-me a “esticar” o prazo por mais duas temporadas. Foram anos muito bons! Também íamos arbitrar Regionais, o que funcionava como oportunidades para conviver com colegas de outras ilhas, que já conhecíamos.

O tempo passado como Árbitro e como Jogador permitiu fazer novas amizades e conhecer outras realidades, o que se manteve como Dirigente. O Desporto tira as pessoas de casa e faz aumentar o seu círculo de amigos, mas também nos ajuda a crescer enquanto pessoas.

Luís Borges: “(…) apitei jogos do meu filho [Gonçalo] no Fayal e no Salão e assinalei dois ‘penalties’ contra ele. Não podemos fugir. Estamos ali para fazer o nosso trabalho”

Sempre tive amigos em diferentes Clubes. Em campo, representava o meu Clube e cá fora éramos todos amigos, ainda mais numa ilha pequena como a nossa. Mas conheço pessoas que são “doentes” pelo seu Clube, não conseguindo separar as águas. Mesmo na Arbitragem, sempre fui amigo de todos, dando o meu melhor no cumprimento das regras, o que nem sempre foi entendido por alguns. Inclusivamente apitei jogos do meu filho [Gonçalo Borges] no Fayal e no Salão e assinalei dois ‘penalties’ contra ele. Não podemos fugir. Estamos ali para fazer o nosso trabalho.

Quanto ao Futsal, jamais me cativou e curiosamente também nunca arbitrei jogos desta modalidade. Só joguei uma época representando a equipa organizada pela “Foto Jovial” e numa formação da AFH, que envolveu árbitros e dirigentes. Gosto mais de Futebol. No entanto, reconheço que o Futsal tem a vantagem de poder ser praticado em pavilhão, sendo um desporto que teve grande implantação no Faial e que continua em destaque no Pico, Flores e Corvo, o que é altamente positivo.

Sempre arbitrei pelo gosto e não por dinheiro

“(…) no meu último ano de Arbitragem ofereci à igreja do Salão todo o dinheiro que recebi”, sublinha o entrevistado

Quem me convidou para ser Árbitro foi o Carlos Neves, que era Presidente do Conselho de Arbitragem da AFH. Fiz Formação numa altura em que o número de árbitros era bem superior ao que existe agora. O único que se mantém no activo desde o meu tempo é o Hélio Duarte, que era sempre o mais exigente. Foi com ele que eu mais arbitrei, tanto localmente como a nível regional.

Depois dessa fase, surgiu um novo convite, desta feita para integrar o elenco directivo do Conselho de Arbitragem, o que aceitei e foi sendo sucessivamente renovado desde 2010. Enquanto eu puder dar a minha colaboração e a mesma for entendida como necessária, assim será. Naturalmente que estas funções são absorventes, mas a verdade é que por vezes não contribuo tanto quanto gostaria, uma vez que trabalho até tarde. Contudo, faço o que posso e colaboro com gosto nesta equipa, onde tenho amigos de longa data.

A nossa principal dificuldade, desde há algum tempo, consiste em encontrar pessoas que estejam dispostas a enveredar pela Arbitragem. Na minha opinião, um factor que desencoraja os mais novos é o ambiente que se vive nos campos. Isto quer dizer que é preciso gostar mesmo, caso contrário não é fácil suportar todas as contrariedades que vão surgir. Além do mais, as condições climatéricas nem sempre são as mais favoráveis. Lembro-me que de Inverno ia apitar debaixo de chuva intensa. Mas lá está: era o gosto que me movia. Sempre arbitrei pelo gosto e não por dinheiro. Aliás, posso revelar que no meu último ano de Arbitragem ofereci à igreja do Salão todo o dinheiro que recebi.

(…) já me pediram desculpa

Época de 2005/2006: Trio de Arbitragem chefiado por Hélio Duarte e assistido por João Almeida e Luís Borges

Para se ser árbitro é necessário ter capacidade de encaixe, vontade, dedicação e disponibilidade. A semana estava sempre preenchida – segunda reunião; terça treinos; quarta formações e assim por aí adiante – pelo que minha mulher me dizia muitas vezes: “Leva a cama e fica aí p’ra baixo!” E eu não apitava Futsal, o que seria sinónimo de mais trabalho ainda. Com isto quero concluir que quem anda na Arbitragem retira muito do seu tempo pessoal e familiar. 

E tal como referi acima, é fundamental ter capacidade de encaixe, pois se levarmos a sério tudo o que nos dizem, não fazemos o nosso trabalho. Há que ignorar o que não interessa, até porque quem foi jogador e passa a árbitro já sabe como é em campo. Muitas vezes quando acabava o jogo de Futebol dirigia-me às pessoas que me tinham insultado e confrontava-as no sentido de me explicarem o porquê de terem feito aquilo. Alguns diziam-me que tinha sido no calor do momento e no contexto do Futebol e a verdade é que já me pediram desculpa. Mas há quem deixe de arbitrar por causa dos insultos, pois o que se ganha é uma insignificância. Não compensa.

Se a lei permitisse, ainda hoje poderia arbitrar, pois tenho capacidade para tal e gostava! Havendo falta de árbitros, é imperioso incentivar os mais novos, que infelizmente preferem ficar comodamente em casa no computador e não só. Alguns concordam em fazer uma experiência, mas chegado o dia não aparecem. Para aqueles que têm menos jeito para o Futebol, a carreira de árbitro pode ser encarada como uma forma de estar ligado à modalidade, dando o seu contributo numa área muito importante. E ao contrário do que muitos pensam, não basta chegar ali ao sábado e ao domingo e apitar jogos. É necessário Formação e trabalho de campo, com treinos duas vezes por semana. Um árbitro trabalha a semana toda, praticamente. E então se falarmos no Presidente do Conselho de Arbitragem, as dores de cabeça são bem maiores. Claro que é o gosto que faz o Marco [Silva] assumir estas funções desde há vários anos, o que é sinónimo de muitas situações para resolver. Sobretudo no fim dos jogos mais competitivos, lá está ele a receber telefonemas por causa da Arbitragem. Os Clubes fazem muita pressão. Não é qualquer um que consegue ter a capacidade e a disponibilidade dele. 

Nuno Dart, Vice-Presidente do Conselho de Arbitragem da AFH; Luciano Gonçalves, Presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol; Marco Silva, Presidente do Conselho de Arbitragem da AFH; Luís Borges, Director do Conselho de Arbitragem da AFH; e Hélio Duarte, Árbitro e Observador, galardoado na Gala AFHorta - 90º Aniversário, decorrida em Outubro de 2020, no Teatro Faialense

Fotografia de: Roberto Saraiva

As árbitras que temos são de qualidade

À semelhança do que já se verifica noutros sectores, também na Arbitragem da AFH há muito que contamos com elementos femininos e ainda bem! Elas percebem disto e algumas já têm muita experiência. As árbitras que temos são de qualidade. Penso mesmo que as mulheres poderão assumir um papel determinante na Arbitragem, pois além de virem colmatar necessidades prementes conseguem impôr um maior respeito neste meio. O ideal seria que muitas mais aderissem.

A Arbitragem da Associação de Futebol da Horta tem beneficiado muito por ter um árbitro de categoria nacional, que é o Vasco Almeida. Este juiz, reconhecido pelas suas capacidades, é um excelente exemplo para todos nós, mas de forma especial para os mais novos, que podem e devem aprender muito com ele. A dedicação e a entrega do Vasco à Arbitragem constituem um verdadeiro incentivo para todos os que pretendem dar cartas nesta área.

Quando enverguei a camisola do Salão, sempre torci por esta equipa

Grupo Desportivo do Salão, que foi Campeão da Ilha do Faial na Época de 1986/1987.

Atrás, da esquerda para a direita: Rogério, José Felisberto, José Gabriel, Sérgio, Lima, Guarda-redes; Hélio Escobar, Rui Silveira, Paulo Silveira, Manuel Pereira e Evaristo Rosa, Treinador.

À frente, pela mesma ordem: Basílio Gomes, Luís Borges, Mário Lino, Mário Amaral, Marinho, Jorge e Alberto Silveira

Se tivesse continuado a morar na Conceição, certamente que o meu Clube tinha sido o Fayal Sport, onde o meu filho já jogou algum tempo, para grande alegria minha. Mesmo já quando residia nos Espalhafatos ainda fui uma época jogar para o Fayal, mas quando enverguei a camisola do Salão sempre torci por esta equipa. São Clubes completamente diferentes. O FSC sempre foi mais organizado e dispunha de outras condições. No entanto, o Grupo Desportivo do Salão também conquistou alguns títulos. Lembro-me perfeitamente de termos sido Campeões do Faial em 1986/1987 com o Evaristo Rosa como treinador; e nas épocas de 1992/1993 e 1993/1994 sagrámo-nos Campeões da Associação de Futebol da Horta, depois de termos vencido o Pico e as Flores. E a seguir fomos disputar a Taça de Portugal, a Sines, em 1994.

Grupo Desportivo do Salão: Campeão da Ilha do Faial na Época de 1986/1987.

Atrás, da esquerda para a direita: José Borges, Dirigente; Evaristo Rosa, Treinador; José Soares, Guarda-redes; Alberto Silveira, Basílio Gomes, Paulo Silveira, António Goulart, Marinho, Rui Silveira, José Felisberto, José dos Anjos, Guarda-redes; Teresa Gomes, Massagista; e José Manuel Gomes, Presidente.

À frente, pela mesma ordem: Mário Lino, Jorge Silva, Hélder Escobar, Luís Borges, Lima, Guarda-redes; Délcio, Joe Alvernaz, José Gabriel e José Alberto Norte

Tive a sorte de ter contraído poucas lesões, o que me permitiu jogar durante bastante tempo. As minhas posições em campo eram sempre pela faixa esquerda:  defesa, médio ou extremo.

Fui treinado pelo Manuel Lino no Fayal e também no Salão, tendo sido o ‘mister’ que mais me marcou. Este Faialense de renome fez uma carreira de grande sucesso dentro e fora dos Açores, além de ter sido internacional. Destaco, também, o Evaristo, com quem fomos campeões. Para alguns jogadores o treinador tem muita influência, mas a sorte também pesa.

Luís Borges conta com duas faixas de Campeão da AFH, alcançadas nas temporadas de 1992/1993 e 1993/1994

Ainda fiz um ou dois jogos amigáveis pelos Veteranos no Salão, mas não havia competição. No entanto, se hoje houvesse uma equipa ainda era capaz de jogar.

Depois de arrumar definitivamente “as botas”, continuei a ir ver jogos, o que só foi interrompido pela pandemia, pelo que tenho optado por acompanhar através da televisão. Mas agora que a situação pandémica está mais controlada quero voltar a ir aos campos, pois já tenho saudades de ver um jogo ao vivo.

Lamento que o Salão já não tenha a sua equipa de Futebol. Dava gosto ir ver os jogos ao domingo, sobretudo quando eram em “casa”.

Se os Clubes mais pequenos se mantivessem no activo, muitos jogadores optariam por defender as cores da sua freguesia

Equipa Sénior do Grupo Desportivo do Salão na temporada de 1989/1990.

Atrás, da esquerda para a direita: José Felisberto, Alberto Silveira, Sérgio, Rui Silveira, Mário Lino e José Soares, Guarda-redes.

À frente, pela mesma ordem: Manuel Pereira, Paulo Silveira, Luís Borges, José Eduíno e Mário José

Quando eu jogava ainda eram nove as equipas no Faial, o que era bom, pois íamos rodando. Com um número maior de equipas, a competição seria mais aguerrida, ao contrário de agora em que são sempre os mesmos a jogar uns contra os outros. Percebo que era bastante difícil manter tantos Clubes no activo, mas tínhamos muitos e bons jogadores. Havia imensa gente a jogar Futebol no Faial, em contraponto ao cenário actual. Antes como agora, a questão financeira foi sempre um problema para todas as colectividades. Tudo isto me leva a pensar que, sinceramente, o Futebol pode vir a acabar um dia. No Faial, actualmente este desporto tem uma expressão bem reduzida comparativamente ao que se registava num passado recente, o que é de lamentar, uma vez que existem boas condições para a prática desta modalidade.

Embora seja verdade que as condições oferecidas pelos Clubes maiores são um grande atractivo, fazendo com que alguns jogadores optem por esses, entendo que se os Clubes mais pequenos se mantivessem no activo, muitos atletas optariam por defender as cores da sua freguesia. Recordo-me da rivalidade acesa que havia quando Cedros e Salão tinham as suas equipas e isto levava muita gente a ir ver os encontros.

Nunca ganhei nada como Jogador e entendo que quem joga tem de ser por “amor à camisola”, caso contrário os Clubes não conseguem fazer face a tantos encargos. No Salão, a Direcção organizava muitas actividades e eram essas receitas que ajudavam a equilibrar as contas do Clube. Paralelamente a todas estas situações, a Covid-19 também afectou o Futebol e o Desporto de uma maneira geral. Depois desta crise, quem gosta a sério vai voltar e os outros talvez aproveitem este pretexto para reduzir ou abandonar a actividade.

Os Dirigentes deviam receber um abono para despesas

Quem não está por dentro da vida das associações, não dá o valor ao trabalho que é levado a cabo. No caso concreto da Arbitragem, há muitos que pensam que é só chegar ali apitar o jogo e está feito. Cheguei mesmo a ouvir comentários do género: “Estes vêm aqui ao fim-de-semana ganhar uns trocos e a seguir vão p’ra casa”. E o mesmo pensam da AFH, desconhecendo tudo o que está por detrás da preparação e organização das diferentes provas.

Além do Conselho de Arbitragem, também faço parte da Junta de Freguesia do Salão (este é já o segundo mandato consecutivo) e anteriormente integrei o elenco directivo da Casa do Povo. Sempre que me pedem e eu posso, colaboro com gosto. Não tenho dúvidas de que é o gosto que faz as pessoas darem de si e do seu tempo, mas também noto que quando isso acontece anos e anos provoca saturação. E depois é difícil encontrar quem queira ocupar aquele cargo. Uma forma de incentivar mais pessoas a colaborar seria haver uma recompensa. Os Dirigentes deviam receber um abono para despesas, sobretudo aqueles que têm de fazer deslocações, o que implica desgastes constantes.

Luís Borges é um adepto confesso do Futebol (e do Benfica), mas recorda o percurso feito no Ciclismo e sobretudo no Atletismo, onde poderia ter brilhado

Fotografias cedidas por: Luís Borges

É gratificante saber que o nosso trabalho é reconhecido

Considero que a Gala AFHorta é uma boa iniciativa, que deve continuar e contemplar as quatro ilhas de abrangência da Associação, pois todas merecem. Este evento constitui uma excelente oportunidade para valorizar as pessoas que andam envolvidas no Desporto, neste caso no Futebol e Futsal. É gratificante saber que o nosso trabalho é reconhecido. Um troféu é uma lembrança que fica para a posteridade e significa que o homenageado não foi esquecido. Para mim, as distinções têm sempre grande valor. A propósito, recordo a lembrança que recebi do Conselho de Arbitragem da AFH quando terminei o meu percurso como Árbitro. É algo que guardo com carinho e orgulho.

E mesmo quando jogava cartas, dominó, bilro e outros desportos nas Semanas Desportivas e Culturais e ganhava aqueles prémios, para muitos tido como insignificantes, sempre os valorizei.

Herculano Duarte (foi árbitro e Vice-Presidente do Conselho de Arbitragem da AFH), Luís Borges (foi Árbitro e actualmente é Director do Conselho de Arbitragem da AFH) e Carlos Neves (antigo Presidente do Conselho de Arbitragem da AFH e actualmente integra a Direcção deste organismo desportivo), na Homenagem feita ao entrevistado em sinal de agradecimento pelo tempo que este dedicou à Arbitragem na Associação de Futebol da Horta

Maio de 2011: Placa que atesta a Homenagem que o Conselho de Arbitragem da Associação de Futebol da Horta fez a Luís Borges quando este cessou funções como Árbitro

No Conselho de Arbitragem da AFH, Luís Borges fez amigos que se mantêm ao longo do tempo e que marcaram presença na Homenagem levada a cabo em 2011.

Atrás, da esquerda para a direita: Hélio Duarte, Herculano Duarte, Nuno Silveira e Paulo Sousa.

À frente, pela mesma ordem: Cleomar, Letícia Melo, Luís Borges, Luís Carlos Sousa e Carlos Neves

O Eduardo está a fazer um bom trabalho

O facto de a Associação de Futebol da Horta contemplar quatro ilhas [Faial, Pico, Flores e Corvo] dificulta bastante o trabalho, mas sei que todas são tratadas com critérios de igualdade.

Há quem pense que o Presidente da Direcção da AFH só anda nisto pelos passeios, não imaginando sequer o que representa gerir uma instituição como esta.

O Eduardo é uma pessoa que sabe dialogar e comunicar muito bem, aliado ao facto de ter conhecimentos e experiência, pelo que está talhado para o cargo. Está a fazer um bom trabalho e penso que vai continuar mais uns anos aos comandos da AFH. Aliás, julgo que enquanto ele puder continuará a dar a sua colaboração. Além disso, não vejo interessados em chegar-se à frente, ainda mais para desempenhar um cargo que implica contactos permanentes com os Clubes, que estão sempre a reivindicar mais e mais.

O Processo de Certificação é um capítulo muito importante e que tem dado bastante trabalho. No entanto, assume-se como vital no sentido de haver crescimento e qualidade. 

A Formação é outra aposta deste Presidente (e restante equipa), sendo decisiva para todos os que estão ligados ao Desporto: árbitros, treinadores, dirigentes, etc.

Ainda dentro do plano de acção traçado, também estão projectadas novas instalações – Sede, Campo e Centro de Estágio – que virão melhorar significativamente as condições de trabalho e até mesmo os resultados da AFH, algo em que acredito plenamente. Todos sabemos que as condições oferecidas funcionam como um grande atractivo. Até os mais pequenos não querem treinar num pelado!”