Honrar o passado, pensar o presente e preparar o futuro, foram os três eixos do discurso do Presidente da Direcção da Associação de Futebol da Horta (AFH), Eduardo Pereira, na Sessão Solene Comemorativa do 92º Aniversário deste organismo desportivo, ocorrido e comemorado na passada sexta-feira, dia 21 de Outubro, tendo como pano de fundo a Sociedade “Amor da Pátria”, na Horta.

Mesa de Honra da Sessão Solene Comemorativa do 92º Aniversário da AFH, na Sociedade “Amor da Pátria”, no decorrer da qual foi apresentado o livro “Associação de Futebol da Horta - Contributos para a sua História (Sequência cronológica de acontecimentos desde 1930 até 1980)”.

Da esquerda para a direita: Cristina Silveira, autora da obra; Jorge Costa Pereira, apresentador do livro e autor do Prefácio; Teresa Cândido, Presidente da Assembleia Municipal da Horta; Luís Couto, Director Regional do Desporto, em representação do Presidente do Governo Regional dos Açores; Maria Antónia Dutra, Vereadora da Câmara Municipal da Horta, em representação do Presidente da Edilidade; Rui Manhoso, Director da Federação Portuguesa de Futebol, em representação do Presidente deste organismo; e Eduardo Pereira, Presidente da Direcção da AFH

No decorrer da Sessão – onde pontificaram Presidentes dos Clubes associados de três das quatro ilhas de abrangência da AFH (Faial, Pico, Flores), das Juntas de Freguesia do Faial, antigos atletas e presidentes, membros dos Órgãos Sociais da AFH, Funcionários e Colaboradores da “casa”, a Presidente da Assembleia Municipal da Horta, Teresa Cândido; o Director Regional do Desporto, Luís Couto, em representação do Presidente do Governo Regional dos Açores; a Vereadora da Câmara Municipal da Horta, Maria Antónia Dutra, em representação do Presidente da Edilidade; Rui Manhoso, Director da Federação Portuguesa de Futebol, em representação do Presidente deste organismo; Eduardo Pereira, Presidente da Direcção da AFH; Jorge Costa Pereira, apresentador da obra e autor do Prefácio, além de outros convidados, incluindo alguns Órgãos de Comunicação Social – foi feita a apresentação da obra “Associação de Futebol da Horta - Contributos para a sua História (Sequência cronológica de acontecimentos desde 1930 até 1980)”, da autoria da jornalista Cristina Silveira.

Na sua intervenção – feita de improviso ao sabor do coração – o Presidente da Direcção da AFH afirmou que “honrar o passado é honrar os Clubes fundadores e todos os outros que, ao longo destes 92 anos, foram fazendo a história da AFH (sendo que alguns já desapareceram e outros se encontram inactivos), honrar os Dirigentes, os Jogadores, alguns com grandes feitos a nível nacional, como por exemplo o “Semilhas” ou António Garcia (“Musgueira”). A AFH foi um viveiro de grandes jogadores e até às décadas de 60/70 era uma referência em termos regionais e nacionais. Para honrar esta gente, era importante que resgatássemos o nosso passado”.

“As mulheres têm sido a “tábua de salvação” dos nossos Clubes”

Eduardo Pereira: “A falta de compromisso está a prejudicar a evolução dos nossos Clubes”

Este Dirigente recordou que a Associação já conta com um livro, da autoria “do saudoso Presidente Honorário, Faria de Castro”, dado à estampa por altura das Bodas de Diamante da AFH, que, “embora relate um pouco da história desta instituição, foi feito em moldes completamente distintos do actual”.

Atendendo a que a obra agora editada relata a actividade histórica deste organismo apenas ao longo do primeiro meio século – o mais alto responsável pela entidade aniversariante, sublinhou que “é preciso começar já a preparar a recolha relativa aos próximos 50 anos, para que em 2030, ano em que a AFH assinala o centenário, o percurso possa estar completo”. E realça: “É uma obrigação das nossas instituições resgatar a sua história. Não vivemos só do passado, mas a verdade é que ele nos fortalece e enriquece, levando-nos a pensar no presente e no futuro”.

Eduardo Pereira considera que “no presente, vivemos tempos muito difíceis, mas, igualmente, muito desafiantes”. E elencou as dificuldades mais prementes, onde se inclui “a falta de instalações condignas não só para os Clubes, mas, também, para a AFH, que não dispõe de um espaço para as Selecções – que são cada vez mais – treinarem”. “Também não estamos a alcançar a igualdade de género, que se pretende ter no Futebol, precisamente por falta de instalações desportivas”, sustentou o líder máximo da AFH, que explicou: “O Madalena, o Flamengos e o Fayal Sport, que são os nossos Clubes com mais atletas federados, respondendo a este desafio manifestam a sua grande vontade, mas não conseguem devido a esta lacuna. No entanto, estamos a concretizar os nossos objectivos no que se refere ao aumento da percentagem da demografia federada feminina”.

Outra dificuldade vivida é a falta de Dirigentes com que se debatem os Clubes do universo da Associação de Futebol da Horta, embora esta carência seja transversal a todas as instituições. Aqui, “a tábua de salvação” têm sido as mulheres, se tivermos em conta que elas estão em crescendo nas direcções, incluindo como presidentes. “O género feminino está a salvar as nossas instituições, concretamente no caso do futebol, que era normalmente mais participado em termos de dirigentes por homens. É por aí que temos de caminhar”, avivou.

A inexistência de árbitros e de treinadores, aliada às exigências constantes que os Clubes sentem no dia-a-dia para cumprir as obrigações emanadas pela AFH, que, por sua vez, as recebe da Federação, são outras das dores de cabeça para a “família” desportiva da Associação de Futebol da Horta. “Percebemos que têm de existir, mas os nossos dirigentes não têm tempo para tantas exigências”, assinala Eduardo Pereira, revelando que “a maior de todas as dificuldades é a falta do espírito de compromisso por parte das famílias e dos jovens jogadores, o que também está a ser sentido por parte da Escola. A falta de compromisso está a prejudicar a evolução dos nossos Clubes, que tudo fazem para chegar mais longe e dois exemplos disso são o facto de, no ano passado, um jogador do Corvo ter sido chamado a participar na Selecção Nacional (Futsal), e da Daniela Santos, do Pico, se encontrar a jogar no Benfica.

Falta-nos o Estatuto do Dirigente, que, no caso dos Açores, está na gaveta há alguns anos. Houve um estudo por parte de deputados de diversos partidos, o qual chegou ao Governo, mas está na gaveta, debaixo de todos os papéis. Aproveito a presença do Director Regional do Desporto e do Director da Federação para lhes pedir que voltem a esse trabalho, pois sem Dirigentes não avançamos. As nossas instituições precisam desse Estatuto, o qual é de tal forma determinante para a Federação ao ponto de o Presidente Fernando Gomes estar vivamente empenhado em alcançá-lo, tendo mesmo mantido reuniões com a Secretaria de Estado e os Ministros”.

“É fundamental que tenhamos confiança uns nos outros e nas equipas de trabalho”, destacou o Presidente da Direcção da Associação de Futebol da Horta

Estratégia 20/30, Processo de Certificação e programa Crescer 20/24

Dentro do eixo “preparar o futuro”, “a AFH encontra-se alinhada com a Estratégia 20/30 que a FPF em boa hora lançou e que a Associação encara com espírito de compromisso, tentando vincular os municípios da sua área a esta estratégia”, afiançou o Presidente da Direcção do organismo que tutela o Futebol e o Futsal nas ilhas Faial, Pico, Flores e Corvo, acrescentando: “Nesse sentido, os presidentes das autarquias foram convidados a ir até à casa-mãe do futebol, em Oeiras, onde tivemos a felicidade de serem transmitidos, de viva voz, pelo Presidente da Federação e por outros dirigentes, os meandros deste propósito, que passa pelo trabalho dos Clubes e das Associações, mas com o apoio dos Municípios, e, sobretudo, com o apoio das Escolas. É imperioso que as Escolas estejam alinhadas com esta estratégia, pelo que, no próximo mês, reuniremos com os representantes dos diversos estabelecimentos de ensino e das autarquias.

Pensar no futuro é pensar na Certificação, sinónimo de trabalho acrescido para os Clubes, mas que deve ser visto como uma ferramenta que os organiza, dando-lhes um norte”.

Federação apoia Academia da AFH com cerca de meio milhão de euros

“Também dentro do programa Crescer 20/24, da FPF, e no âmbito do eixo “preparar o futuro”, estamos em sintonia com a Federação, tendo aumentado a nossa demografia feminina federada.

Encontra-se em marcha o projecto “Uma Associação uma Academia”. No seguimento do acordo que vinha sendo estabelecido com a Câmara da Horta, desde há dois anos, recentemente assinámos um protocolo de cedência dos terrenos com vista à construção da Academia de Futebol da AFH e da sua Sede, na freguesia da Feteira. Neste desiderato, contamos com um elevado contributo da FPF, se tivermos em conta que num projecto estimado num milhão e duzentos mil euros, esta entidade comparticipará em cerca de 500 mil euros.

Preparar o futuro é estarmos com os nossos Clubes e mantermos a nossa política de apoio aos mesmos. Mas para estarmos ao lado dos nossos Clubes nos últimos anos, temos sacrificado as contas da Associação, que tendo capacidade para fazer isso, não o pode manter para sempre.

Recordo que estivemos ao lado dos Clubes durante a pandemia, e, embora tenhamos recebido alguns apoios para isso, fomos além do que recebemos e os nossos associados sabem disso. Queremos e devemos manter estes apoios para que os Clubes consigam sobreviver e continuar de portas abertas.

A terminar, quero deixar uma mensagem de esperança, pedindo para que pensem na palavra confiança. É fundamental que tenhamos confiança uns nos outros e nas equipas de trabalho. Se não houver confiança, dificilmente conseguiremos avançar.

Agradeço o trabalho que os nossos Clubes têm desenvolvido e dentro dos três que fundaram a AFH, gostaria muito que o Sporting Clube da Horta voltasse à nossa actividade. Aliás, não há muito tempo, recebi um ofício desta colectividade, manifestando, precisamente, essa vontade, o que é muito positivo.

O meu agradecimento é extensivo aos Órgãos Sociais e Funcionários da AFH. Deixo ainda um agradecimento à Direcção desta Sociedade, pela cedência do espaço”.

O livro pode ser adquirido na AFH e na Papelaria/Livraria “O Telegrapho”

Esta obra “abre caminho a estudiosos e investigadores que queiram aprofundar conhecimentos e desenvolver (…) análises, interpretações e sínteses”

Na sua intervenção, Jorge Costa Pereira, autor do Prefácio, começou por referir que “foi com gosto” que aceitou o convite formulado para dirigir algumas palavras em forma de apresentação do livro agora lançado. E prosseguiu, dizendo: “Entendo que o papel do apresentador não é o do crítico; ao apresentador cabe, sobretudo, procurar dar o enquadramento para a obra e sensibilizar e motivar os ouvintes para a sua leitura. Ao crítico, compete, ao invés, o juizo sobre os seus méritos ficcionais ou narrativos e a ponderação sobre os seus resultados. Por isso, o meu objectivo é tão só o de procurar transmitir-vos o que é este livro, e, se possível, despertar-vos a curiosidade e o interesse em lê-lo. É para isso que este livro ou qualquer outro serve: para ser lido. E, neste caso muito especialmente, para ser lido por quem gosta de história, e, simultaneamente, de futebol, uma vez que ele constitui o primeiro volume daquilo a que a sua autora, chama e bem, de contributos para a história da AFH.

Esta viagem que Cristina Silveira conduz, recorrendo a uma exaustiva recolha de fontes primárias e secundárias, começa nos primórdios da prática do futebol, aqui na cidade da Horta, fazendo recuar o seu início aos anos 50 do século XIX. Depois desse primordial futebol pontapeado com o pé, como é chamado e referido por John Pierpont, nas suas cartas escritas no Faial, quando cá esteve, quase meio ano, com 15 anos de idade, a tratar-se de um problema de saúde, a autora leva-nos a percorrer as grandes etapas que permitiram a consolidação competitiva do futebol no Faial e consequente criação, em 1930, da AFH, o organismo enquadrador da competição local.

“(…) a autora descreve, a fundo, nesta obra, o passado da AFH e faculta-nos uma espécie de memória não só sobre a instituição, mas, principalmente, sobre o futebol nestas ilhas”, sublinha o apresentador do livro

A natural evolução da prática desportiva, particularmente no futebol, levou à criação dos primeiros clubes locais, com destaque para a fundação, em 1909, do Fayal Sport Club, que ainda se mantém como o decano dos Clubes dos Açores e um dos mais antigos do País. Todo esse trajecto é recordado no livro, enquanto acompanhamos os intercâmbios desportivos entre várias ilhas dos Açores, os resultados dos jogos e até o número estimado de espectadores. Por exemplo, em 1912, o encontro realizado no Campo da Doca, entre o Fayal Sport Club e o Sporting Clube Académico de São Miguel, atingiu 7 mil espectadores, com direito à actuação de filarmónica, a abrilhantar o jogo. Permitam-me um à parte: O espanto que não seria hoje ver num dos nossos campos de futebol 7 mil espectadores, isto é, metade da população do Faial!

Em 1923, assiste-se ao nascimento dos outros dois clubes, que terão, durante décadas, o exclusivo da competição local: o Angústias Atlético Clube, em Janeiro; e o Sporting Clube da Horta, em Maio desse mesmo ano.

A partir de 1930, com a fundação da AFH, a 21 de Outubro, pela mão dos três clubes existentes: Fayal, Atlético e Sporting, aos leitores deste livro é oferecida uma sequência cronológica de acontecimentos, que termina, neste volume, em 1980.

Ao longo de centenas de páginas, profusamente ilustradas e documentadas, Cristina Silveira permite-nos acompanhar, época desportiva a época desportiva, as vicissitudes que rodearam o futebol, as desavenças, as dificuldades, os protagonistas, os resultados desportivos, as classificações das provas, indo mesmo até às actividades culturais e recreativas promovidas pelos Clubes, as suas digressões e a sua participação em torneios exteriores.

Com base em fontes diversificadas, desde fontes primárias, como as Actas da AFH; a secundárias, como imprensa e bibliografia já publicada, a autora descreve, a fundo, nesta obra, o passado da AFH e faculta-nos uma espécie de memória não só sobre a instituição, mas, principalmente, sobre o futebol nestas ilhas. E fá-lo sem rebuscamentos, nem artificialismos, através de uma escrita directa e acessível, e de uma estrutura organizativa simples, que permite deixar registados os elementos que considerou mais relevantes ao longo de todo este tempo.

Com isso, abre caminho a estudiosos e investigadores que queiram aprofundar conhecimentos e desenvolver as suas análises, interpretações e sínteses. Também por isso, esta é uma obra de grande utilidade que prestigia a sua autora.

A finalizar, uma palavra de natural elogio à AFH, ao seu Presidente e Direcção, que abriram as portas ao seu passado, para que esta memória se perpetue para as gerações vindouras, traduzida em conhecimento presente, que este livro permite e estimula. Posto isto, a última palavra é nossa e vossa, ajudando a que o livro cumpra a sua missão: ser lido, apreciado, corrigido e mesmo criticado, mas cumprindo a sua missão única de nos unir pelo conhecimento e pela cultura”.

“(…) esta publicação deve ser vista como uma ferramenta essencial no que toca ao conhecimento, divulgação e preservação da história da AFH”

Na sua intervenção, a autora explicou que, inicialmente, este trabalho estava direccionado para o 90º Aniversário da AFH, mas rapidamente percebeu que o manancial informativo que este percurso encerra não poderia ser vertido num único volume. Como tal, decidiu-se dividir a missão, relatando num primeiro volume o que de mais significativo ocorreu de 1930 a 1980, ou seja, os primeiros 50 anos; deixando para um segundo volume o que pontificou de sinalizador entre 1981 e 2030, altura em que a Associação de Futebol da Horta completará um século de vida ao serviço do Desporto.

De acordo com a autora, “a trajectória da Associação de Futebol da Horta está intimamente ligada ao pulsar desta Cidade”

Para Cristina Silveira, “esta publicação deve ser vista como uma ferramenta essencial no que toca ao conhecimento, divulgação e preservação da História da Associação de Futebol da Horta, contribuindo para a valorização e reconhecimento público da sua missão e daqueles que deram corpo à mesma. Mais do que um livro, estamos a falar do único veículo palpável capaz de mostrar aos de hoje e aos de amanhã os meandros deste organismo, cujo espectro não se resume meramente à vertente desportiva e que bastas vezes levou – e continua a levar – mais longe o nome desta Terra”. E prossegue: “Podemos ser tentados a pensar que a história, antiga e rica, que a Associação de Futebol da Horta representa se resume meramente à vertente desportiva. Mas não! Ela compõe vários capítulos daquela que foi a Horta de outrora: cosmopolita, intelectual, aberta ao mundo, ‘sportiva’ e pioneira.

Sendo a Associação feita de Clubes, estes deram, ao longo de décadas, vida à urbe hortense, com as suas iniciativas desportivas, mas, sobretudo, com a dinâmica exercida nos campos social, recreativo e cultural. Já eram autênticas escolas de formação a diferentes níveis! Paralelamente aos Desportos – Futebol, Basquetebol, Voleibol, Ténis, Ténis de Mesa, Water-Pólo, Remo, Natação, Hóquei em Campo, Hóquei em Patins, Atletismo, Ciclismo, Tiro e tantos outros – os nossos Clubes caracterizavam-se por uma intensa componente cultural, onde sobressaíam grupos cénicos, agrupamentos musicais, espectáculos variados com artistas do Continente (e não só), festas em esplanadas, reuniões dançantes, cinema, edição de publicações e tantas outras manifestações culturais e artísticas, que contribuíram para dinamizar, durante largas temporadas, o meio faialense, considerado o mais vanguardista dos Açores.

A trajectória da Associação de Futebol da Horta está intimamente ligada ao pulsar desta Cidade, sobressaindo, ao longo de toda a sua existência, as acções com fins sociais, beneficentes e filantrópicos, a que hoje damos o nome de Responsabilidade Social.

E se tudo isto não bastasse para convencer aqueles que acham que isto é apenas Futebol e não nada mais, podemos entrar agora no capítulo do Dirigismo, que é vasto e abrangente. Quantas famílias têm o seu nome inscrito nas páginas da vida da Associação de Futebol da Horta, seja como Atletas, Treinadores, Árbitros, Massagistas, Presidentes, Dirigentes (entre outros Agentes Desportivos), Colaboradores ou mesmo como Funcionários? (Praticamente) todos, de uma forma ou de outra, estamos ligados a esta grande instituição, que desde os seus primeiros passos tem espelhado o pioneirismo, o desenvolvimento, a qualidade e a hospitalidade do Faialense.

As marcas da vivência da então “Cidade mais Desportiva do Arquipélago” estão gravadas nos recortes da imprensa, nos anais e nos livros, nas ruas e recantos, nas memórias saudosistas, nos relatos emocionados, nos discursos inflamados, nos álbuns amarelados, no ADN deste Povo.

Falar da história da Associação de Futebol da Horta é falar da história colectiva do Faial. Por isso, é de enaltecer a visão e a sensibilidade dos seus últimos elencos directivos que, na pessoa do Presidente Eduardo Pereira, têm percebido que não se pode amar aquilo que se desconhece, acautelando e divulgando todo este espólio e, simultaneamente, dando visibilidade e mérito a quem tem “vestido a camisola”.

De que serve termos uma história rica encerrada em paredes, livros de Actas, faixas, taças e troféus se não a conhecermos? É preciso partilhá-la, divulgá-la! Este legado pertence ao Faial, aos Açores, a Portugal, ao Mundo, e não apenas àqueles que estão directamente ligados à Associação de Futebol da Horta. Mas para que possa ser respeitado, continuado e valorizado, tem de ser propalado no seu conteúdo. E todos somos chamados a esta missão colectiva”.

Eduardo Pereira agradeceu o trabalho desenvolvido pelos Órgãos Sociais da AFH

“(…) a AFH teve sorte ao escolher (…) um homem, que defende, grandemente, a sua Associação e o Desporto na sua Região (…)”

Rui Manhoso, Director da Federação Portuguesa de Futebol, em representação do Presidente desta entidade (Fernando Gomes), começou por dizer que “a AFH é uma associação que ao longo dos anos tem crescido, dentro do possível, não só no seu tamanho, mas, sobretudo, no trabalho que tem feito”. E frisou: “É difícil associações como a da Horta, de Angra, de Ponta Delgada, e outras, poderem, de alguma maneira, equilibrar nas suas balanças o futebol em relação ao que se passa no Continente, devido ao isolamento. Este factor, aliado à falta de população, tal como acontece nalgumas zonas do Continente, dificulta a missão de praticar Desporto! Mas praticar Desporto é aquilo que a Federação pretende. Mas não queremos que pratiquem só futebol. Queremos que pratiquem Desporto.

Uma situação que nos apoquenta, e muito, na Federação Portuguesa de Futebol, é o Dirigismo. Essa é, talvez, a nossa maior preocupação. Queremos mais atletas, queremos que se pratique um melhor futebol e queremos apoiar quando há obra feita. O Sr. Presidente da Federação disse, há pouco tempo, que até ao fim do nosso mandato – que termina em breve –  temos de trabalhar mais. Não vamos encostar-nos à sombra do que fizemos, pois, para isso, já podemos ir embora. Então, resolvemos criar apoios para os Clubes, para o Desporto, percebendo onde é que poderíamos procurar os atletas.

Nas escolas, durante muito tempo, o futebol perdeu a sua batalha, porque esta modalidade sempre pensou que tinha muita gente e que era a dona de todo o Desporto. Mas quando percebeu que nas escolas já se praticava todas as outras modalidades, e bem, despertou também para o futebol, criando programas, pedindo às associações que colaborem nos mesmos, tentando que as câmaras possam apoiar esses programas, e, acima de tudo, querendo mais gente para a prática desportiva, mais dirigentes, o que é a parte mais difícil. Quem é que quer ser dirigente nesta altura?

Queremos, também, que os pais, que educam os seus filhos, os acompanhem nos campos, apoiando-os e colaborando no seu desenvolvimento.

Queremos lutar até ao fim pelo futebol, porque temos algumas obras a fazer na Cidade do Futebol. Mas queremos, acima de tudo, deixar a nossa “casa” pronta para que alguém possa, um dia, dar continuidade, se assim o entender, à nossa obra ou ir além do que fizemos.

Rui Manhoso: “É preciso dar condições às Associações – nosso braço direito – e aos Clubes”

Quando o Presidente Eduardo Pereira afirmou, na sua intervenção, que a Federação quer “Uma Associação uma Academia”, penso que estamos a dar mais um passo nesse sentido.

Nestes 92 anos de história da AFH, tenho de mencionar uma pessoa que muito me marcou, que foi o Faria de Castro, um Presidente com quem lidei. Foi das primeiras vozes activas dos Açores nas Assembleias-Gerais da Federação. Era um dirigente que defendia, e bem, os Açores. Mas a Associação de Futebol da Horta teve sorte ao escolher outro homem, diferente do Faria de Castro, mas com uma personalidade muito própria, que defende, grandemente, a sua Associação e o Desporto na sua Região: o Eduardo Pereira. Isto é importante. Além de defender os Açores, defende o Desporto nos Açores.

A Região tem, nesta altura, um Director Regional do Desporto que também passou pela casa por onde eu passei, e ainda bem que ele está nestas funções, pois o Luís Couto, ou “Licas” como é mais conhecido, é um homem do futebol que conhece as dificuldades das pessoas e da sua Terra. E queremos pessoas que lutem pelo futebol na sua Terra, tal como queremos mais clubes, mais jogadores, mais futebol feminino. Mas, para isso, é preciso lutar para que, dignamente, todos possam praticar Desporto. É preciso dar condições às Associações – nosso braço direito – e aos Clubes. Sem o apoio da Federação e das entidades oficiais, para onde é que vamos todos?

A encerrar, quero destacar que foi um prazer vir cá novamente. Há quem diga na Federação que eu sou o representante dos Açores na FPF. Não sei se sou, mas venho cá tantas vezes que daqui a pouco já tenho uma costela açoriana. Tudo aquilo que aqui conheci, as amizades que fiz nas ilhas durante todo este percurso de Director, é algo que nunca esquecerei e os meus descendentes sabem o quanto eu gosto de vir aqui”.

“Há uma simbiose natural e uma partilha de valores e de objectivos (…) entre a AFH e a CMH”

Maria Antónia Dutra: “O Município acompanha a Associação na concretização do objectivo de construir a Academia do Futebol”

Maria Antónia Dutra, Vereadora da Câmara Municipal da Horta em representação do Presidente do Município, evidenciou a relação existente entre a AFH e a Edilidade, que se traduz “numa simbiose natural, numa partilha de valores e de objectivos, sobretudo na promoção da actividade desportiva, na formação humanista e no fomento de estilos de vida saudáveis, em especial dos mais jovens, trabalhando na prevenção e evitando comportamentos de risco, que, por vezes, acabam por destruir as famílias e a comunidade”.

“O Município acompanha a Associação na concretização do objectivo de construir a Academia do Futebol. Com esta infraestrutura, o Faial e a Região verão reforçada a capacidade de receber atletas, promover acções de formação e organizar eventos desportivos de âmbito nacional e internacional. E é também por isso que o Município, neste dia e nesta hora, reconhece, publicamente, e enaltece a AFH pelo seu percurso histórico, pelo dinamismo que revela no presente e pelo seu contributo, inestimável, para a Ilha, para a Região e para o País.

De igual forma, o Município saúda e enaltece o projecto que hoje é apresentado publicamente. Bem-haja à autora e à AFH por mais esta obra, que engrandece o repositório histórico da Associação e dos Açores”.

“(…) nada substitui o livro na produção de memória futura”

Luís Couto, Director Regional do Desporto, em representação do Presidente do Governo Regional dos Açores, demonstrou o seu regozijo pelo facto de ter sido incumbido para estar presente nesta Sessão Solene, o que lhe deu “a oportunidade de, numa conversa quase de diálogo, ouvir o movimento associativo”. E notou: “É cada vez mais importante ouvir, mas os decisores políticos têm medo de ouvir. E é preciso ouvir melhor para decidir melhor. Este momento dá-me não só a oportunidade de ouvir, como, também, de falar sobre o que estamos a fazer.

O Presidente Eduardo usou, com muita felicidade, a terminologia do passado, do presente e do futuro. A do passado está aqui bem expressa e dou os parabéns à autora do livro e a quem teve esta iniciativa, porque, de facto, nada substitui o livro na produção de memória futura. O livro é o elemento nuclear, que nós temos de proteger até aos limites das nossas forças, na perspectiva de ser ele o repositório para memória futura daquilo que são as instituições. Parabéns à AFH por ter seguido este caminho e preservado o seu passado.

A retoma aconteceu com muita energia e a questão das instalações é um gravíssimo problema

Na perspectiva do presente, foram aqui focados muitos dos problemas que estão diagnosticados relativamente ao Desporto Açoriano no seu todo. Em primeiro lugar, a questão crónica das instalações. Neste momento, o crescimento da prática desportiva foi de tal ordem, que já estamos a níveis superiores ao período pré-pandemia. A retoma aconteceu com muita energia e a questão das instalações é um gravíssimo problema. Mas as instalações não se resumem à falta de campos de futebol, ginásios, pavilhões, piscinas, mas, sim, pelo desaparecimento do espaço rua, pelo desaparecimento do espaço jardim-recreio, pelo desaparecimento do espaço Escola, que era a nossa instalação desportiva por natureza, onde dávamos os primeiros pontapés, onde nos desenvolvíamos em termos motores. E jamais alguém se preocupou com isso, porque era natural. Se não fosse na Escola era no quintal, era no serrado, no calhau, era em todo o lado. O desenvolvimento motor promovia-se por si só. Nós perdemos isto. O espaço rua deixou de ser um espaço de segurança. Hoje em dia, o adulto – professor ou pai – tem horror ao acidente. Acham que são maus pais ou professores se o menino fizer um rasgão no joelho. Hoje, há meninos que entram na universidade e nunca rasgaram as calças; há meninos que nunca subiram a uma árvore. Que resposta motora é que podemos esperar ou pedir? Isto é a mesma coisa que abrir a universidade sem ter ainda resolvido o problema da escola primária. É obrigatório combatermos – e agora falo para a Câmara da Horta, neste caso, para a sua Vereadora aqui presente – a desertificação do espaço do jardim-recreio. Temos de dar segurança a estes espaços, as crianças têm de procurá-los, os pais têm de deixar os filhos ir para lá, porque nada de mal acontece e o desenvolvimento motor tem de ser uma realidade.

Temos de promover a instalação de excelência, que estimule uma prática mais regular.

Vamos tentar estudar aquilo que é a condição físico-motora das crianças e jovens dos Açores no pós-pandemia

Neste momento, nos Açores, estamos à beira de iniciar um grande estudo que incluirá cerca de 20 mil estudantes, entre os 13 e os 18 anos, chamado “Despertar”. Vamos tentar estudar aquilo que é a condição físico-motora das crianças e jovens dos Açores no pós-pandemia. Queremos saber para onde temos de ir e o que temos de fazer.

Temos um plano estratégico designado dos 0 aos Jogos Olímpicos e pretendemos começar a intervir logo nas idades mais precoces. Dos 0 aos 3 anos, vamos tentar introduzir psico-motricistas (técnicos de desenvolvimento motor) nas unidades de saúde, que farão o acompanhamento das consultas pós-parto, aconselhando os pais de que forma é que pode ser promovida a estimulação motora precoce.

Fotografias de: Roberto Saraiva

Perante esta pandemia motora, quem tem a vacina são os Clubes, as Associações, o Desporto

Tenho um compromisso para as famílias e Clubes dos Açores. Se as famílias querem que os Clubes sejam a segunda família, a família tem de ser o primeiro Clube. Este é o grande desafio que temos de colocar à sociedade açoriana, a qual vive num momento de pandemia motora. As nossas crianças, pelo que acabei de referir, são completamente analfabetas motoras. E isto é preocupante na perspectiva do desenvolvimento integral. Eu não vivo feliz se não conseguir transportar o meu corpo.

Perante esta pandemia motora, quem tem a vacina são os Clubes, as Associações, o Desporto. E se comprovarmos que temos essa vacina, vamos aumentar o nosso valor social. Nós valemos muito mais do que aquilo que recebemos.

Conta de Satélite de Desporto

Queremos promover, até ao fim da legislatura, a conta de Satélite de Desporto. O Satélite vai verificar quanto é que o Desporto gera na economia dos Açores. É o sapato, o treinador, a luz do campo, a água, a relva, o equipamento, a viagem, a hotelaria, a restauração, os transportes, enfim, um conjunto enorme de despesas que é feito por via do Desporto e temos de saber quanto é para mostrarmos à sociedade o que recebemos e o que valemos. Temos sectores em que a nossa actividade é altamente impactante para economia de determinados sectores e eles dão-nos zero. Temos de aumentar o nosso valor social, que é enorme. A sociedade precisa de Desporto como de pão para a boca. E rapidamente!

Quadros competitivos na Região são pobres

Após termos resolvido a questão das instalações, temos a questão da prática do Desporto per si. E aí somos claramente deficitários por vivermos numa região arquipelágica. Os quadros competitivos têm de revestir-se de três componentes: duração, densidade e equilíbrio. Temos alguma dificuldade neste desiderato, porque há ilhas em que apenas há uma ou duas equipas. No Faial, vocês têm o privilégio de poderem jogar com a ilha do Pico. A seguir a São Miguel, a AFH será a Associação com quadros competitivos com maior volume. Angra, actualmente tem duas equipas de Seniores, havendo outras tantas na Graciosa e em são Jorge. E agora, pergunto: Que quadro competitivo é que pode sair daqui? Pobre. Garantidamente, pobre. Felizmente, a Federação tem, no seu projecto 20/30, a possibilidade de dar algum apoio, porque estas mesmas questões são sentidas no interior e exterior do País. O interior de Portugal está desertificado, tal como nós. A única diferença é que não tem mar e agora também nem água tem. É a única coisa que nos distingue. De resto, têm os mesmos problemas.

As Associações de Futebol dos Açores são a cara deste projecto da FPF, pela sua dupla insularidade: somos pequeninos e descontínuos. Temos o mar que nos separa.

Eu entusiasmo-me a falar disto, porque acredito. E estou aqui por missão. Por paixão pela minha Terra, mas muito apaixonado pelo Desporto. Gostava muito de sair daqui com alguma coisa marcante feita no processo do desenvolvimento desportivo da Região Autónoma dos Açores”.

A Sessão Solene Comemorativa do 92º Aniversário da Associação de Futebol da Horta, que foi conduzida por Rui Rodrigues, encerrou com um Beberete no Jardim de Inverno da Sociedade “Amor da Pátria”, tendo os Parabéns sido cantados e as velas apagadas pelo antigo Presidente, Rafael de Melo Luís.

Cristina Silveira