Nasceu em Cabo Verde mas há cerca de cinco anos que o Faial passou a ser a sua segunda casa. Lá, jogou Futebol federado e também Futsal, mas cá deu primazia ao Basquetebol, embora ainda jogue Futebol de vez em quando com os amigos.

Na sequência do Curso de Técnico de Informática e Sistemas encontra-se a fazer o Estágio T na Associação de Futebol da Horta (AFH), o que viabilizou a entrada no mundo do trabalho. Encontrar um emprego que lhe garanta estabilidade é agora o principal objectivo de Edmilson Jorge da Cruz Brito, que se sente perfeitamente integrado neste novo ambiente, reconhecendo que ter vindo para o Faial lhe permitiu ter outras perspectivas de futuro.

 

Cristina Silveira

 

O facto de ter chegado ao Faial com 19 anos facilitou a adaptação a Edmilson Brito, um jovem cabo-verdiano que um dia pensou vir a ser Topógrafo. A mudança da família trocou-lhe as voltas e há perto de cinco anos (completos em Setembro próximo) aterrou de malas e bagagens na ilha Azul. “Quando minha mãe chegou ao Faial pensou ir-se embora, porque aqui faz mais frio. O nosso clima é mais seco ao contrário daqui, que é húmido. No entanto, acabámos por nos adaptar. Naturalmente que tenho saudades da minha terra, pois nunca mais voltei lá. Mas para já não penso regressar senão de férias. A minha integração aqui foi tranquila por ser adulto e também já fiz amigos, o que ajuda.

Nasci na ilha de Santo Antão, que é mais virada para a agricultura, mas a falta de chuva tem trazido dificuldades acrescidas, designadamente emprego”.

Perante as opções disponíveis, Edmilson enveredou pelo Curso Profissional de Técnico de Informática e Sistemas, na Escola Secundária Manuel de Arriaga (ESMA), na Horta, e depois do Estágio de fim de Curso, feito na própria Escola, inscreveu-se para a realização do Estagiar T, um Estágio Profissional com a duração de dois anos, que decorre na Associação de Futebol da Horta (AFH). “Surgiu a oportunidade de vir para a AFH e estou a gostar do trabalho. Dedico-me ao Arquivo, Inventário e Digitalização entre outros aspectos e sinto que tenho aprendido muito. Todos temos um bom relacionamento, o que ajuda bastante. Se me dessem a oportunidade de ficar mais algum tempo aproveitava. Em Cabo Verde apenas fiz uns ‘part-time’ mas nada que se compare com a actual situação. O próximo passo será encontrar um emprego que me permita estabilidade e organizar a minha vida.

Tenho uma boa relação com o Presidente, uma pessoa com muita responsabilidade e que tem de estar sempre atento a tudo. É preciso ter bagagem para estar à frente de uma organização como esta. Ele falou-me dos projectos da nova Sede e da Academia, que são fundamentais para o desenvolvimento e melhoria do Desporto nestas ilhas. Vejo isso com bons olhos, até, porque, tenho um irmão pequeno que poderá vir a beneficiar destas infraestruturas. 

Fazendo um balanço ao tempo de Estágio, Edmilson afirma que “é francamente positivo” e realça: “Gostava muito de continuar por aqui, mas mesmo que isso não venha a acontecer já me sinto grato pela oportunidade que a AFH me deu de aprender e crescer. É uma experiência nova, que está a ser muito produtiva. Foi uma surpresa perceber o que se passa aqui. Há muito que fazer. Cada secção faz a sua parte para um trabalho final de conjunto, que conta com imensos voluntários.

Colaborei na realização das duas Galas, em 2019 e 2020, e acho que são momentos importantes para dar a conhecer um pouco daquilo que faz a Associação de Futebol da Horta, na estrada há 90 anos”.

 

“Gosto muito de Futebol”


Edmilson Brito na Gala AFHorta - 90º Aniversário, (acompanhado por Bernardo Pereira, colega de Estágio), realizada em Outubro de 2020, no Teatro Faialense

Fotografia de: Roberto Saraiva

 

O nosso entrevistado já tinha ouvido falar da Associação de Futebol da Horta, mas confessa que sabia “pouco” sobre esta instituição. “Para ser sincero, nem fazia ideia de que ficava neste sítio, que é um pouco recôndito, e também não tinha noção do trabalho que aqui é desenvolvido. Mas é interessante ter vindo parar a este organismo que tutela o Futebol e o Futsal no Faial, Pico, Flores e Corvo, pois gosto muito de Futebol.

Joguei no Futebol Clube Marítimo e no Fiorentina, como central e lateral, mas depois da lesão que tive em Cabo Verde – embora não tenha sido nada de grave – deixei de ver este desporto na vertente de competição. Como tal, jogo às vezes com amigos daqui, na Torre do Relógio. Tenho receio de poder acontecer uma situação que me traga problemas na minha vida pessoal e profissional. E como os meus amigos se viraram, em grande parte, para o Basket, ultimamente tenho me dedicado mais a esta modalidade e faço parte do Clube Desportivo da Escola Secundária Manuel de Arriaga, tendo já participado em dois Regionais. Além de praticar um desporto também posso estar com os amigos, o que é bom.

Em Cabo Verde tive o sonho de ir mais longe no Futebol, mas sei que era algo muito difícil. No entanto, temos de traçar objectivos e correr atrás deles, como é o caso do Messi, jogador que eu admiro muito. Ele tem talento mas a verdade é que também trabalha bastante. Sou adepto do Barcelona embora apoie a Selecção Portuguesa.

Nunca estive envolvido no Dirigismo, mas na minha terra eu e alguns colegas ajudávamos o nosso Clube: o Futebol Clube Marítimo de Santo Antão. Como o financiamento era reduzido, sempre que nos pediam colaborávamos. Se neste momento estivesse em Cabo Verde provavelmente estaria a jogar Futebol, o que sempre aconteceu em campos de terra batida.

Também joguei Futsal com amigos e neste caso o campo era em cimento. Embora o arquipélago disponha de um estádio, está reservado só para os Clubes. Por isso, a primeira vez que joguei num pavilhão foi no Faial. Lá, o pessoal já estava habituado àquelas condições e olhando para trás posso dizer que tenho saudades desses tempos! Os meus amigos de sempre ficaram em Cabo Verde assim como as minhas raízes. É graças ao ‘Facebook’ que mantenho contacto com eles. É uma forma de nos aproximarmos mais.



Edmilson com colegas da equipa de Basquetebol da Escola Secundária Manuel de Arriaga


Fotografias cedidas por: Edmilson Brito

 

Os amigos que fiz no Faial também me ajudaram na integração na Escola, e não só, e nos tempos livres costumamos ir para casa uns dos outros jogar ‘playstation’. Já vejo o Faial como uma segunda casa e embora possa pensar que na Terceira ou em São Miguel poderia haver mais oportunidades, a verdade é que no Faial já criei laços. Estou perfeitamente adaptado”.

           

“Mantemos as marcas da passagem portuguesa”

 

Edmilson gosta da comida faialense (e açoriana) e até tem amigos noutras ilhas para além do Faial, mas não dispensa alguns pratos da gastronomia cabo-verdiana, que continuam a ser confeccionados pela mãe.

A comunicação não foi um obstáculo para este jovem, porque em Cabo Verde o Português é a língua oficial. “Na escola somos obrigados a escrever Português mas na rua só falamos crioulo. Digamos que o Português está reservado para as ocasiões formais, já que todos os documentos para lidar com qualquer entidade têm de ser redigidos na língua de Camões, mas entre as comunidades o que reina é o crioulo. Na sala de aula muitos alunos recusam-se a falar o Português – embora todos percebam – e é por causa disso que várias pessoas de Cabo Verde se deparam com dificuldades de comunicação quando chegam a Portugal.

Além da língua, também ficámos com a antiga moeda portuguesa – o escudo – e persistem muitas marcas do tempo dos portugueses. Existem várias casas que mesmo velhas fazem parte do património desse tempo.

No Faial já ensinei algumas palavras em crioulo a amigos meus que queriam aprender. Com o contacto acabamos por aprender qualquer língua”.