Desde 2010 que Roberto Daniel Moniz Vieira preside ao Conselho de Justiça da Associação de Futebol da Horta (AFH), deliberando sobre os recursos das decisões do Conselho de Disciplina, tendo feito a revisão dos Estatutos em 2014, o que lhe permitiu ficar a conhecer os meandros legais da Federação Portuguesa de Futebol (FPF).

Advogado, técnico superior e empresário na área do Turismo, confessa-se um viciado em novas conquistas e realizações profissionais, mas não um ‘workaholic’, pois preza muito a sua vida familiar e social, reservando algum tempo para o lazer.

Embora tenha jogado Futebol e continue a apreciar a modalidade, desde há 3 anos que está completamente rendido ao Trail, onde tem brilhado no pódio.

 

Cristina Silveira

 

A amizade foi o mote para aceitar integrar a equipa de Eduardo Pereira nas eleições à presidência da Associação de Futebol da Horta (AFH). Estávamos em 2010 e Roberto Daniel Moniz Vieira ocupava o lugar de Presidente do Conselho de Justiça. Esta era a primeira vez que Eduardo Pereira concorria como Presidente do organismo que tutela o Futebol e o Futsal no Faial, Pico, Flores e Corvo. Anteriormente, tinha sido sempre o “braço direito” de Faria de Castro, que faleceu subitamente em Setembro de 2009, o que fez com que, na qualidade de Vice-Presidente, tenha assumido a presidência (em Outubro) até ao acto eleitoral do ano seguinte. E uma das alterações que o novo líder da AFH implementou nesse mandato (2010-2014), foi a criação de um Conselho de Disciplina, que anteriormente era assumido pela Direcção.


O Futebol permitiu não só manter a actividade física como também o convívio com amigos

 

Em 2014, foi feita a revisão dos Estatutos existentes e o nosso entrevistado confessa que foi “um trabalho interessante”. “Nas outras actividades em que estou envolvido não lido com os estatutos das Associações de Futebol, pelo que esta remodelação permitiu-me conhecer os meandros dos regulamentos do Conselho de Disciplina e de Justiça (e outros) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), o que se tem revelado útil na acção levada a cabo ao longo destes anos na actividade do Conselho de Justiça. No fundo, o que fizemos na AFH foi uma adaptação da regulamentação da Federação à Associação, no sentido de falarmos todos a mesma linguagem. Tudo o que está relacionado com a revisão de estatutos e regulamentos implica rigor e muita atenção”


Roberto Vieira: “A revisão dos Estatutos foi um trabalho interessante”

 

“(…) a estabilidade dos Conselhos de Arbitragem e de Disciplina (…) facilita a prestação do Conselho de Justiça”

 

O Conselho de Justiça é composto por mais dois elementos: Teresa Faria Ribeiro e José Braia Ferreira, que acompanham o Presidente desde 2010, constituindo “uma equipa coesa e experiente”.  

No decorrer da actividade do Conselho de Justiça, Roberto Vieira tem-se deparado com alguns “recursos interessantes”. “Começa a dar trabalho mas é desafiante, porque cada vez mais os Clubes se vão munindo de advogados para fazer as suas oposições e recursos, o que obriga a que o estudo efectuado por este Conselho seja mais profundo e rigoroso”, constata o Presidente deste órgão, revelando que “a situação que mais tem gerado controvérsia ao longo destes anos tem sido a que está relacionada com a validade dos exames médico-desportivos dos jogadores. Por se tratar de um instrumento fundamental para aferir a aptidão dos praticantes desportivos e triagem de determinadas patologias ou situações clínicas, principalmente na população jovem, os exames médico-desportivos são obrigatórios e devem ser renovados anualmente no mês correspondente à data de aniversário do seu titular. Ora, embora pareça um procedimento simples, a verdade é que os Clubes têm de submeter a inscrição dos jogadores, incluindo o exame médico-desportivo, numa plataforma electrónica – ‘SCORE’ – na data da inscrição ou no mês de aniversário do jogador. Acontece que alguns Clubes esquecem-se de renovar o exame médico no mês em causa ou, possuindo o exame, não o inserem na referida plataforma, ou ainda, situação mais recorrente, esquecem os dois procedimentos anteriores e só se apercebem desta situação quando é emitido pela plataforma um relatório de anomalias a indicar que o jogador foi inscrito num jogo (até pode não ter jogado) sem exame médico válido, o que acarreta a condenação do Clube com derrota e multa. Nestes casos, os Clubes apresentam diversos argumentos em sua defesa, desde a pré-existência do exame médico, o não funcionamento da plataforma, a responsabilidade da Associação, entre outros, os quais têm sido indeferidos por este Conselho de Justiça – e também pelo Conselho de Disciplina – em nome da obrigatoriedade anual do exame médico-desportivo para protecção da competição desportiva, da saúde dos atletas e do dever de cada Clube de realizar atempadamente os processos de inscrição”.

Para este Dirigente, “a parte mais visível da AFH está centrada na Direcção e no Conselho de Arbitragem, órgãos que lidam directamente no terreno com o produto final desta engrenagem: a actividade desportiva, o Futebol e o Futsal”. “Admiro muito o trabalho e a estabilidade que os Conselhos de Disciplina e de Arbitragem dão à Associação de Futebol da Horta, o que facilita a prestação do Conselho de Justiça”, realça Roberto Vieira, lembrando que esta entidade tem 7 órgãos: Assembleia-Geral, Direcção, Conselho Fiscal, Conselho de Disciplina, Conselho de Arbitragem, Conselho de Justiça e Gabinete Técnico. E desde há algum tempo, Departamento de Comunicação e Marketing. “Tudo isto envolve muita gente. E com tantos Clubes associados, provenientes de 4 ilhas, não é fácil gerir tudo isto! O Eduardo, com a sua maneira de ser, lá consegue manter tudo calmo e estável e mesmo em tempo de pandemia tem havido actividade, seguindo todas as recomendações emanadas pela Autoridade de Saúde, obviamente”.


De forma federada ou para descontrair, o Futebol fez parte da vida de Roberto Vieira durante muito tempo

 

“Quem não está ligado à Associação, não tem noção do trabalho que se faz”

 

“O trabalho do Conselho de Justiça é técnico, de gabinete. Acredito que há muita gente que não tem noção da existência de alguns dos órgãos da Associação de Futebol da Horta e muito menos do que fazem. Só estando com a equipa toda em Assembleias-Gerais, convívios ou outros eventos de maior envergadura é que, mesmo os elementos de todos os órgãos directivos da AFH podem ter plena consciência da sua dimensão. Quem não está por dentro do Futebol nem sabe que há uma entidade que organiza os jogos, os calendários; outra que tem o poder de Disciplina; outra para onde se recorre das sanções aplicadas a Clubes, a Jogadores, etc. Mas o Eduardo sabe gerir muito bem esta máquina. Além de ter um profundo conhecimento do Futebol regional e nacional, é muito respeitado e considerado na Federação, o que ajuda sobremaneira na concretização de projectos ambiciosos como aqueles que a Associação de Futebol da Horta apresenta para os próximos anos, designadamente, a nova Sede e a nova Academia. Estamos a falar de obras essenciais, pois a AFH funciona num anexo! Seria uma forma de compensar, digamos assim, a não execução do Estádio “Mário Lino”. Penso que o Eduardo é o homem certo no lugar certo. É de trato fácil. É muito ponderado e sabe ouvir, o que é uma virtude”.


Roberto e os colegas de equipa da Assembleia Legislativa

 

“Gostava de fazer uma pausa mas acabei de aceitar o desafio para um novo mandato”

 

O nosso entrevistado garante não ter a ambição de ser Presidente da Direcção da AFH, notando: “Se fosse há uns anos, talvez me metesse nessa loucura mas agora é precisamente o oposto do que procuro, pois gostava de ter mais tempo para a família”.

E quando questionado sobre a possibilidade de fazer um quarto mandato como Presidente do Conselho de Justiça – as eleições serão no próximo mês – percebe-se que Eduardo Pereira conseguiu, uma vez mais, ser convincente: “Gostava de fazer uma pausa mas acabei de aceitar o desafio para um novo mandato. Contudo, espero que seja o último”. Porém, ressalva: “Digo isto, não pelo trabalho que tenho na AFH, pois há períodos de longa pausa, mas, sim, pelo facto de estar envolvido em várias outras instituições e actividades profissionais. Enquanto outros órgãos da Associação têm um trabalho quase diário ou mesmo diário, no Conselho de Justiça a actuação pauta-se por uma grande imprevisibilidade. De um momento para o outro surgem recursos, sujeitos a prazos, que obrigam a súbitas reorganizações do nosso dia-a-dia para poder responder às solicitações”.


Vida associativa começou no Faial


O desporto também proporciona agradáveis momentos em família, como este em que Roberto Vieira participou no “Epic Trail”, em São Miguel, tendo arrecadado vários troféus individuais e simultaneamente para a sua equipa faialense: “Praiolas Team”

 

Roberto Vieira chegou ao Faial há 21 anos, para trabalhar na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores (ALRAA) como técnico superior. Desde então exerce advocacia, actividade que diz ser “determinante” para aprimorar o pragmatismo que pauta o seu quotidiano.

Nos últimos 15 anos tem desempenhado as funções de Deputado na Assembleia Municipal da Horta. Apesar das oportunidades que teve desde cedo para regressar à ilha natal, optou por ficar e a verdade é que se integrou rapidamente na sociedade faialense.

“Em São Miguel, de onde sou natural e residi até aos 20 anos, nunca colaborei com qualquer instituição. São as circunstâncias, as pessoas com quem contactamos que nos convencem, como aconteceu com o Eduardo, que é muito persuasivo.

Fui um dos fundadores do Cineclube da Horta, estive no Conselho de Disciplina da Associação de Basquetebol do Faial e na Assembleia Regional fui Presidente da Comissão de Trabalhadores e da Assembleia-Geral do Centro de Cultura e Desporto (CCD). Durante muitos anos colaborei com diversas instituições, de cariz social, desportivo e político. Foram muitas horas de reuniões e trabalho sem qualquer proveito financeiro, mas enriquecedor por saber que estava a dar o meu contributo para esta sociedade”.


O nosso entrevistado exibe um troféu conquistado pela equipa de Futebol do CCD da ALRAA

 

Nas vésperas de completar 20 anos de idade, partiu de São Miguel rumo à Figueira da Foz, onde cumpriu o serviço militar. Mas antes, nos finais dos anos 80, jogou Futebol federado nos Juniores da Esperança da Lomba da Maia.

A tropa e os estudos arrefeceram o jogo mas não a vontade de jogar. E na Casa da Autonomia voltou a envergar o equipamento para defender as cores do Centro de Cultura e Desporto da ALRAA. “Jogávamos na Escola Secundária e participámos em diversos torneios, tendo ganho alguns troféus”. 

No Faial, Roberto também se dedicou ao Futebol com amigos e sempre com o intuito de ter alguma actividade física. “Desde que vim para o Faial que joguei com um grupo de veteranos nos Flamengos, ao domingo de manhã e à quarta-feira à noite. Claro que, para além do desporto, o prolongamento dos jogos sempre se fez com o salutar convívio, regado por cervejas e petiscos”.

 

“(…) gosto muito de chegar à meta e ser acompanhado pelos meus filhos nos últimos metros”


Este amante da corrida no final dos 100 kms das 3 provas do “Triangle Adventure”, acompanhado pela filha

 

“Desde há 4 anos que deixei de ir com tanta regularidade a estes jogos e passei a dedicar-me ao Trail, treinando mais a sério e com resultados nos últimos 3 anos. É engraçado que eu sempre adorei Futebol e agora não me apetece pelo facto de agravar as minhas hérnias discais e dores nos joelhos. O Trail tem-me permitido conhecer muitas pessoas, os encantos da natureza de todas as ilhas dos Açores e alguns no Continente português. Com excepção da Graciosa, já estive nos pódios de provas realizadas em todas as ilhas dos Açores. Aprecio imenso esta actividade e gosto muito de chegar à meta e ser acompanhado pelos meus filhos nos últimos metros.


Roberto Vieira saboreia a vitória no fim dos 80 kms do Trail “São Jorge ponta a ponta”

 

Com a pandemia tem havido menos provas, mas aos fins-de-semana temos feito regularmente uma edição do “Mar à Caldeira”, percorrendo as 13 freguesias do Faial por trilhos, sempre com início junto ao mar e fim no ponto mais alto da ilha. A última que fizemos foi Castelo Branco. Começámos no Porto Velho, subimos e fomos até ao Morro, depois entrámos na estrada do mato, atravessámos pastos e fomos até à Caldeira e regressámos. Posso dizer que estou rendido ao Trail. E quando acabar esta entrevista vou vestir os calções e fazer mais um treininho”.


Mais um pódio no Trail, este na ilha do Pico

 

Fotografias cedidas por: Roberto Vieira