Jogou Futebol de rua e de Salão na sua freguesia Natal – Criação Velha do Pico – de forma não federada, mas é no Futebol Clube da Madalena (FCM) que deixa obra feita: de 2012 a 2014 como Director e de 2014 a 2022 como Presidente. Ao fim de oito anos consecutivos aos comandos desta agremiação desportiva, onde foram vividas situações extremamente difíceis e onerosas, José Paulino Dias Rodrigues entende que é tempo de outros darem o seu contributo, garantindo que as actuais funções cessam em Maio próximo, altura em que haverá eleições.

Cristina Silveira

Foi o facto de o filho frequentar a escola de Formação do Futebol Clube da Madalena (FCM) – do qual é Sócio há décadas – que pesou decisivamente na hora de José Paulino Dias Rodrigues aceitar o cargo de Director na equipa que então liderava os destinos desta colectividade desportiva picoense. Corria o ano de 2012 e este Dirigente estava longe de imaginar o que o esperava neste Clube. Chegados a 2014 e a tempo de eleições, colocou-se a situação de haver lista candidata, mas sem qualquer interessado em encabeçar a mesma. E é nessa circunstância que José Rodrigues aceita ser Presidente, encontrando todos os escalões (Seniores e de Formação) desintegrados. “Na época de 2011/2012, o Futebol Clube da Madalena desceu da II Divisão, não tendo sequer condições para ficar no Campeonato de Futebol dos Açores (CFA). Neste contexto, a acção dominante do primeiro e segundo mandatos passou por refazer as equipas, cujo trabalho foi muito prejudicado pela Covid-19”, revela o entrevistado, explicando:

Equipa de Benjamins B do Futebol Clube da Madalena, que participou no PATEIRA CUP - Torneio Internacional de Fermentelos, em Junho de 2016

“Actualmente, o Clube conta com todos os escalões de Formação, sendo que uma boa parte da nossa equipa Sénior já é constituída por jogadores da escola de Formação, o que é um bom incentivo no sentido de os mais novos prosseguirem. E isso tem vindo a ser uma realidade época após época, o que nos apraz registar. Garante de que vai haver continuidade é o facto de esta temporada até termos duas equipas de Traquinas e duas de Benjamins. Mas para que possa haver jogos entre as categorias de Formação é fulcral que os outros Clubes, picoenses e até da AFH, também consigam ter estes escalões em funcionamento. A categoria de Juniores é sempre a mais prejudicada, tendo em conta a saída de jogadores para continuarem os seus estudos.

Embora os resultados sejam um aspecto que todos ambicionamos e pelos quais trabalhamos, a verdade é que na linha da frente está a Formação, sinal de futuro e de desenvolvimento”.

“Gostava que o Clube mantivesse as 2 Estrelas da Certificação (…)”

Na Gala AFHorta - 90º Aniversário, que decorreu em Outubro de 2020, no Teatro Faialense, o Futebol Clube da Madalena recebeu o Diploma e o Troféu relativos à Certificação como Escola de Futebol com 2 Estrelas. As distinções foram entregues por José Silva, Director da AFH no Pico, ao Presidente da Direcção do Clube, José Rodrigues

Fotografia de: Roberto Saraiva

Sendo o Processo de Certificação uma ferramenta “positiva”, mas que “dá muito trabalho”, o Presidente do Futebol Clube da Madalena revela que “a opção que tem vindo a ser seguida passa por ter algo que possa ser cumprido, não indo além do que existe”. E realça: “Gostava que o Clube mantivesse as 2 Estrelas da Certificação que conseguiu conquistar, o que já representa um grande esforço. Para clubes amadores como é o nosso caso, este é um Processo bastante exigente. Por isso, não tenho a certeza de que todos os que estão nestas circunstâncias possam ter a capacidade de atingir os requisitos que são impostos. A fasquia é alta. É nesse sentido que eu defendo que é preferível mantermos o que temos com qualidade do que dar um passo em frente e perder ou diminuir o que se alcançou.

A organização do Processo de Certificação foi iniciada por um Director do Clube, que, de forma empenhada, tem dedicado muitas horas da sua vida, o qual, posteriormente, passou a contar com a colaboração do funcionário do Clube. Trata-se de um projecto muito absorvente e trabalhoso. São diversas as frentes de “ataque”, que vão decorrendo por etapas, o que é sinónimo de acompanhamento, actualização, desenvolvimento, etc. E claro que a nossa acção não se cinge ao Processo de Certificação, embora ele só por si dê bastante que fazer. Estamos a falar de uma missão que nunca está acabada, exigindo sempre mais e mais de nós. Além de disponibilidade, é preciso entrega, compreensão, apoio, capacidade de diálogo e de encaixe… Só quem passa por estes lugares percebe a verdadeira dimensão do que representam”. E o nosso entrevistado sabe bem do que fala, pois teve de se confrontar com entraves tanto por parte do Clube como da família. “Inicialmente, eu chegava a casa às 10 e 11 horas da noite, pelo que ninguém queria falar comigo, o que era compreensível, tendo em conta que eu estava no Madalena de manhã até à noite! Com o tempo, houve uma habituação a esta minha dedicação”.

2019: Equipa Feminina de Futsal do Futebol Clube da Madalena, com o Presidente José Rodrigues e o Treinador Fernando Teixeira

“Só depois de ter assumido a presidência percebi que havia mais dívidas para além daquelas que eu tinha conhecimento”

O Futebol Clube da Madalena, fundado em 1974, desenvolve as modalidades de Futebol (desde o início e na presente época em todos os escalões) e de Voleibol (desde há três anos, contando com escalões de Formação e Seniores Femininos).

O Futsal tem maior incremento no concelho das Lajes – embora na Madalena o Boavista de São Mateus também pratique esta modalidade – e o Hóquei em Patins na Candelária.

Se recuarmos até 2014, ano em que José Rodrigues foi eleito Presidente pela primeira vez, percebemos, pela sua narrativa, que o percurso foi tenebroso: “Nos primeiros tempos, deparei-me com muitas dificuldades e só depois de ter assumido a presidência percebi que havia mais dívidas para além daquelas que eu tinha conhecimento, as quais foram sendo saldadas e, simultaneamente, incrementada a renovação do Clube. Apenas damos uma pequena compensação aos treinadores e não pode ser de outra forma.

O nosso Campo é Municipal, o que significa que a manutenção é feita pela edilidade. No entanto, devido à colocação do sintético novo – o anterior estava mesmo no limite do que era aceitável, tendo estado na origem de várias lesões contraídas pelos atletas – desde Novembro passado que jogamos no Estádio do Bom Jesus, em São Mateus, o que implica mais gastos, decorrendo os treinos “em casa”. Estas obras também vêm dotar o Campo Municipal das medidas obrigatórias para a realização de competições nacionais, uma vez que faltavam dois metros. A intervenção em curso contempla, ainda, a remodelação dos balneários”.

Época de 2020/2021: Equipa Sénior do Futebol Clube da Madalena, aquando da conquista da Super-Taça do Triângulo

“Quando assumo um cargo, dou tudo”

José Paulino Dias Rodrigues não se vê como um líder, mas a verdade é que não sabe dizer que não, prevalecendo o gosto por ajudar. Há 12 anos que vem integrando a Direcção da Casa do Povo da Criação Velha, sendo apologista de que “o Voluntariado não pode acabar”. Na sua opinião, estas e outras instituições “não dispõem de meios que permitam sequer gratificar os Dirigentes”, não descartando, por isso, a hipótese de uma possível compensação vir sob a forma de benefícios fiscais.

A entrega deste picoense à causa Desportiva fica bem patente na forma, desinteressada e abnegada, como colaborou, ao longo de uma década consecutiva, com o Futebol Clube da Madalena, desempenhando funções de Director (dois anos) e de Presidente (oito anos). “Nos dois primeiros anos de mandato [como Presidente] eu era, praticamente, um funcionário do Clube, pois fazia de tudo, tanto na Secretaria como no terreno, incluindo transportes e não só, muitas vezes usando o meu próprio carro. Foram anos de intenso labor, mas só poderia ser assim, porque quando assumo um cargo dou tudo. Aqueles que me acompanham sabem o que é viver esta realidade, mas quem está de fora não tem ideia do trabalho que um Clube dá! Ainda mais quando há dívidas. Noto que há reconhecimento pelo que tem sido feito, mas a verdade é que as entidades já ajudaram mais.

(…) o mais importante é sentir que deixo o Clube com todos os escalões de Formação a funcionar, (…)

Termino o actual mandato em Maio próximo e saio com mais amigos nestas ilhas. Sinto-me muito cansado, além de ter problemas de saúde, mas ainda assim valeu a pena. Apesar do cansaço acumulado, estou disponível para dar a minha colaboração, mas numa posição de rectaguarda. Pretendo continuar a ir ver os treinos e a estar presente, mas não com as responsabilidades actuais. Gosto muito de ver os miúdos treinar! Para mim, o mais importante é sentir que deixo o Clube com todos os escalões de Formação a funcionar, não ficando ninguém para trás. O meu objectivo primordial, enquanto Presidente do Futebol Clube da Madalena, foi sempre trabalhar para que os mais novos tivessem onde treinar e jogar.

(…) estão reunidas as condições para que o futuro presidente e a sua equipa tenham sucesso, (…)

Estou confiante de que vai ser possível organizar um grupo capaz de levar avante o projecto de gerir o Clube. O facto de alguns elementos da equipa Sénior integrarem a actual Direcção e de dois serem treinadores dos escalões de Formação tem sido uma enorme mais-valia, representando uma colaboração fundamental. Na minha opinião, é assim que deve ser uma boa equipa, um grupo unido. Contrariamente ao que se verifica noutros Clubes, o Madalena não vive com carência de jogadores. Por tudo isto, entendo que estão reunidas as condições para que o futuro presidente e a sua equipa tenham sucesso, além de que irão beneficiar de um relvado novo, de balneários renovados e da ausência de dívidas. Garantidamente, terão mais sorte do que eu, mas fico muito satisfeito que assim seja.

No Futebol Clube da Madalena, há sempre um grupo disposto a avançar, mas, curiosamente, ninguém quer assumir o lugar de presidente. Percebo que a situação financeira intimidasse os candidatos, mas a partir de agora esse problema está completamente ultrapassado. E, a propósito, tenho de assinalar que este foi um desiderato nada fácil de atingir, mas o pessoal que esteve comigo incentivou-me sempre, tendo havido muita colaboração”.

O Futebol Clube da Madalena foi o vencedor da 10ª edição da Super-Taça “Dr. Manuel Faria de Castro” em Seniores, na Época de 2020/2021, disputada a 09 de Maio de 2021, no Estádio da Alagoa, ilha do Faial, depois de já ter vencido a Taça AFH

Já em 2019 (primeira vez), o FCM tinha ganho esta mesma Super-Taça, organizada pela AFH em homenagem a este antigo presidente da Direcção  

“A pandemia estragou os nossos planos quase todos”

À semelhança do que aconteceu por todo o mundo, a Covid-19 também fez estragos no Futebol Clube da Madalena. Que o diga o Presidente da Direcção, que depois de ter lutado, afincadamente, para reerguer as equipas e as finanças do Clube, ainda teve de se debater com um inimigo sem rosto. “A pandemia estragou os nossos planos quase todos”, ressalta José Rodrigues, apontando como um exemplo de peso a interrupção do “Madalena Cup”, que em 2020 ia para a sua 4ª edição. “Este torneio, que tinha como data de realização o mês de Junho, deu muito trabalho para chegar à fase em que se encontrava, com a particularidade de que registava um grande crescimento. Envolvia equipas de Formação de Futebol do Pico, Faial, São Jorge, Terceira, São Miguel bem como do Continente português e estava num patamar muito elevado. Tínhamos vários patrocinadores e constituía, além de um destacado momento de convívio e excelente veículo de promoção do Futebol, uma boa fonte de rendimento. Lamento muito que isto tenha acontecido, pois sei que vai ser extremamente difícil voltar a pôr de pé este belíssimo evento, que estava muito bem montado e a dar resultados notáveis”.

Equipa de Benjamins do FCM, uma das que disputaram o “Madalena Cup”, em 2019

O FCM dispõe de duas carrinhas, mas apenas uma se encontra em condições de fazer transportes, havendo o apoio da Câmara Municipal da Madalena e de outras instituições do concelho. “Se não fosse a pandemia, que não permite a realização de iniciativas para angariar dinheiro, já tínhamos avançado com esta reparação, mas estamos a falar de viaturas que têm um grande desgaste, o que implica o dispêndio constante de verbas. A solução encontrada foi esta parceria entre várias instituições. Vamos ajudando-nos uns aos outros”.  

“A AFH tem ajudado sempre”

José Rodrigues com a equipa Sénior do FCM, na temporada de 2018/2019

Fotografias cedidas por: José Rodrigues

Impedidos de realizar jogos com público nas bancadas, de manter os bares em funcionamento e de promover iniciativas para angariar fundos, os Clubes filiados da Associação de Futebol da Horta (assim como tantos outros) sofreram rudes golpes nas actividades e nas fontes de rendimento, sem falar na condição psicológica de todos os Agentes Desportivos, começando pelos Atletas, que foi bastante afectada. Por isso, mais do que nunca foi determinante o papel da AFH, como vinca José Rodrigues: “A Associação de Futebol da Horta apoiou todos os seus Clubes em plena pandemia. Se não tivesse havido essa atitude por parte deste organismo, alguns teriam enfrentado sérias dificuldades. É preciso nos lembrarmos que mesmo realizando jogos à porta fechada, foi necessário pagar o policiamento. Os Clubes deixaram de ter receita própria, mas os encargos mantiveram-se. Analisando melhor até aumentaram, já que as regras sanitárias impostas pela Direcção Regional da Saúde (DRS) acarretaram despesas acrescidas. Por isso, a AFH ajudou muito em tempo de pandemia! Aliás, a Associação tem ajudado sempre, mesmo ao nível de formações, inscrições, seguros, etc. Estamos a falar de um apoio indispensável, atendendo à dimensão dos nossos Clubes.

Desde que estou no Madalena que a minha relação com a Associação de Futebol da Horta e com este Presidente é muito boa! É fácil lidar com o Eduardo [Pereira] e ele tem capacidade para se manter no cargo por mais tempo, mas digo já que não queria a vida dele, pois deve ser bem pior do que a minha no que ao Dirigismo diz respeito”.

A prova mais tangível de que José Rodrigues encara este organismo como estando ao serviço de todos os seus Clubes nas quatro ilhas de jurisdição (Faial, Pico, Flores e Corvo) não acicatando bairrismos doentios e divisionistas é o facto de ter aconselhado o filho – que anteriormente defendia as cores do Madalena, mas também já jogou Hóquei no Candelária – a inscrever-se no Atlético, uma vez que actualmente reside no Faial e demonstrou vontade de continuar a praticar Futebol.

“A primeira tranche da DRD, destinada à Formação, deveria ser entregue no início da época”

A Direcção Regional do Desporto (DRD) concede um apoio aos Clubes destinado à Formação – “manifestamente insuficiente no caso do Madalena” – que é entregue por duas vezes. Este Dirigente preconiza que “a primeira tranche deveria ser atribuída no início da época por forma a realmente ajudar os Clubes, os quais têm de possuir verbas próprias para fazer face às despesas relacionadas com a Formação”. Já no que concerne à segunda parte, que é entregue no fim das competições, José Rodrigues considera que “faz sentido que seja nesta altura”.

“A Gala realizada nas Flores foi a que proporcionou maior convívio (…)”

Em Novembro de 2021, no decorrer da Gala AFHorta - 91º Aniversário, que teve como palco o Auditório Municipal de Santa Cruz das Flores, o Futebol Clube da Madalena viu, uma vez mais, o seu trabalho ser reconhecido de forma pública com a atribuição da Certificação que o distingue como Escola de Futebol com 2 Estrelas. O Diploma foi entregue por Júlio Vieira, Director da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e Responsável pela Certificação; e o Troféu por Mário Pereira, Director Técnico da Associação de Futebol da Horta (AFH), ao Presidente da Direcção do Futebol Clube da Madalena (FCM), José Rodrigues

Fotografia de: Bernardo Pereira

Dentro do propósito de rotatividade da Gala AFHorta pelas quatro ilhas de abrangência deste organismo desportivo, a última – no âmbito dos 91 anos da AFH – decorreu na ilha das Flores, no passado mês de Novembro. A primeira Gala (que aconteceu por altura do 89º aniversário) teve como palco a ilha do Pico, em Novembro de 2019; e a segunda realizou-se no Faial, em Outubro de 2020. A de 2022 será no Corvo.

O Presidente da Direcção do Futebol Clube da Madalena sublinha que este “é um bom evento atendendo a que permite juntar toda a gente deste meio”. E evidencia: “Para mim, a Gala nas Flores foi a que correu melhor, uma vez que o facto de termos permanecido todos na ilha proporcionou um maior convívio e conhecimento, o que é sempre muito salutar e importante. Deveria ser sempre assim, com um bom ambiente. Identifico-me com eventos que tenham estes ingredientes e quando não fizermos destes momentos uma festa, não faz sentido continuar. Naturalmente, que os troféus atribuídos representam um reconhecimento público pelo trabalho desenvolvido, o que também é de enaltecer, já que todos gostamos de ser valorizados pelo nosso trabalho, ainda mais quando tudo é feito de forma gratuita, mas com assinalável prejuízo para os Dirigentes que, por carolice, vão-se dando e partilhando aquilo que têm: tempo e recursos, em detrimento da vida pessoal e familiar, sendo, bastas vezes, incompreendidos e criticados.

Tanto no Pico como no Faial, mal terminou a Gala o pessoal [das ilhas] saiu a correr para apanhar a lancha, o que não possibilitou a continuidade da festa entre os convidados. Já em 2021, o facto de todos termos de pernoitar nas Flores contribuiu para que pudéssemos conviver animadamente. Foi muito positivo e agradável. A repetir!”