“Em matéria de política de desenvolvimento desportivo, nos Açores temos a convicção de dever cumprido, embora sempre inacabado, acima de tudo, porque, entre nós, o desporto é uma actividade de todos e para todos que, quotidianamente, faculta entretenimento e bem-estar”. Foi assim que Avelino Meneses, Secretário Regional da Educação e Cultura, começou a sua intervenção na Gala AFHorta - 89º Aniversário, que decorreu no dia 02 deste mês, no Auditório Municipal da Madalena do Pico.

Perante uma plateia que rondava as 400 pessoas – entre Autoridades, Clubes, Dirigentes, Jogadores, Árbitros, outros agentes desportivos, Órgãos Sociais da AFH, outros convidados e Comunicação Social, o governante referiu que “em redor da prática desportiva, reúnem-se os adultos e os mais velhos, que, agora, conduzem os destinos colectivos, mas, também, os mais novos que asseguram a continuidade e expansão enquanto verdadeiros construtores do futuro”. “Por isso – ressalvou – insistimos no aproveitamento dos tempos livres das crianças, o que depois há-de arrastar os familiares, motivando todos para as práticas física e psicologicamente saudáveis, da locomoção, do desenvolvimento, da autonomia e da socialização. Mais do que isso, na infância a adopção de estilos de vida mais activos catapulta-os para a condição adulta, garantia maior da construção de uma sociedade mais saudável para todo o sempre.

Claro que a prova da inclusão de todos exige a mesma consideração pelos portadores de deficiência, que, da parte do Governo dos Açores e dos seus concidadãos, aguardam por mais oportunidades e maior igualdade. Mas se o desporto é louvavelmente uma actividade de todos e para todos, nem todos procuram e nem todos alcançam o paradigma da excelência, resultante da prática da competição que assegura a conquista dos melhores resultados traduzidos em vitórias e também numa incontida alegria. A participação açoriana na Selecção Portuguesa, que, no Verão de 2016, disputou no Rio de Janeiro os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, constitui o melhor certificado da qualidade do nosso desporto de competição.

Com o dobro da taxa portuguesa de participação desportiva absoluta e com a maior taxa nacional de participação feminina, os Açores continuarão na senda do progresso, inclusivamente na vanguarda do desenvolvimento do desporto em Portugal.


A Gala AFHorta - 89º Aniversário Premiou o Mérito Desportivo e Escolar


Em relação aos atletas, é preciso estimularmos hoje o esforço, a dedicação e o orgulho e garantir-lhes amanhã uma posição de dignidade pessoal e profissional para evitar a revelação de vidas contraditórias nas quais, à fama efémera sucede a frustração permanente com repercussões físicas e psicológicas ou negativas. A profilaxia para tamanho perigo reside na Escola, que não constitui um embaraço à prestação desportiva, que constitui o alicerce da construção de uma carreira profissional compensadora, que assegure o prolongamento da felicidade pessoal após os anos efémeros da glória desportiva, vividos no entusiasmo dos estádios”.

 

A origem do Futebol - Horta leva a palma da primeira capital do desporto

 

“Estamos aqui reunidos para comemorar o Futebol e mais particularmente para comemorar os 89 anos da Associação de Futebol da Horta”, sublinhou o titular da pasta da Educação e Cultura dos Açores.  

Fazendo uma retrospectiva, Avelino Meneses recordou que “o Futebol tem, talvez, uma origem mais do que milenar. Com efeito, da Antiguidade e da Idade Média chegam notícias da prática, por todas as civilizações, de jogos com bola, desde o reino mais longínquo até aqui, ao extremo mais Ocidental da Europa. Todavia, tal como hoje se joga, o Futebol tem uma origem mais próxima. Na verdade, nasce na Inglaterra, na segunda metade do século XIX, se descontadas umas incertas reminiscências do século XVII. Na transição para o século XX, logra a difusão pelo demais mundo, justificando a criação da Federação Internacional de Futebol (FIFA), em 1904, obtendo maior consolidação depois da II Guerra Mundial.

Em Portugal e por consequência nos Açores, o Futebol surge entre os últimos anos do século XIX e os primeiros anos do século XX, também aqui por influência inglesa, trazida pelos estudantes portugueses e açorianos em Inglaterra, mais do que isso, por impulso das comunidades britânicas existentes no país e na Região. Talvez isso explique o facto de o Futebol Clube do Porto ser o mais antigo clube português, fundado em 1893, numa cidade portadora de uma antiga e numerosa colónia inglesa.

Talvez isso também explique o facto de o Fayal Sport Club ser o mais antigo clube açoriano, fundado em 1909, logo depois do Porto, do Boavista, do Benfica e do Sporting. Curiosamente também nascido numa cidade: a Horta, que era albergue de uma numerosa colónia inglesa, constituída maioritariamente por funcionários e empresas de transportes e comunicações, por exemplo, das Companhias de Cabos Submarinos.  Aliás, a somar ao Fayal Sport Club, ao Sporting Club da Horta e ao Angústias Atlético Clube, estes fundados em 1923, ainda se distinguia na urbe faialense o British Futebol Club, que demonstra bem a preponderância da comunidade do Reino Unido na ilha do Faial.

Não vale a pena alimentar pendências sobre a descoberta da ilha ou da cidade dos Açores onde se terá dado o primeiro pontapé numa bola de futebol. Todavia, como já disse atrás, entre 1898 e 1900, no crepúsculo do século XIX e no imediato alvorecer do século XX, a prática futebolística sobressai, pelo menos como experiência pontual, nas três cidades históricas açorianas. Mesmo assim, a Horta leva a palma da primeira capital do desporto, concretamente do Futebol dos Açores. Neste caso, muito terá influído a fundação desta Associação de Futebol, que logo organiza o primeiro Campeonato no Faial.

 

Quem melhor jogava eram os do Faial


O desporto é um parceiro no sucesso escolar

Durante anos, mesmo décadas, o povo manteve viva a memória da primazia faialense no mundo futebolístico açoriano. Nasci e cresci na Terceira. A minha infância, a minha adolescência e a minha juventude coincidiram com a hegemonia do futebol terceirense nos Açores, muito por força do Lusitânia, também do Angrense, ocasionalmente do Praiense. Recordo a disputa, anual, do título de Campeão Açoriano, prova que motivava um grande entusiasmo entre os amantes do “desporto rei”. A mim, na altura simplesmente terceirense, sem pensar na academia muito menos na política, preocupava-me mais a concorrência dos clubes de São Miguel, sobretudo do Santa Clara, embora ainda se encontrasse a grande distância da sua primazia de hoje. Porém, meu pai, esse continuava a dizer que quem melhor jogava eram os do Faial. E isto já depois da crise dos Capelinhos, que motivara a sangria das gentes, compreensivelmente inebriadas pelo sonho da América, retirando fulgor à cidade da Horta e à ilha do Faial no conjunto do arquipélago dos Açores”.


José António Soares, o anfitrião na Madalena do Pico; Eduardo Pereira, Presidente da AFH; e Avelino Meneses, Secretário da Educação e Cultura, no convívio antes da Gala

Feminização do Futebol e novas técnicas de arbitragem

 

“O Futebol demanda respeito por ser o desporto mais popular do mundo. A prova está no facto de os Campeonatos Mundiais de Futebol registarem mais do dobro das assistências e das audiências que seguem os Jogos Olímpicos. A explicação do fenómeno reside, de certo, nos poucos recursos e nos poucos equipamentos indispensáveis à prática da modalidade que, por isso, conhece expansão em todos os países, quer nos ricos quer nos pobres. Porém, num futuro próximo ganhará ainda maior popularidade, fruto do efeito da feminização ainda hoje mais atrasada do que nas modalidades ditas pobres, como por exemplo no Basquetebol ou no Voleibol. Na verdade, o primeiro jogo internacional de selecções femininas ocorre em 1972, precisamente um século depois do início das disputas masculinas. No entanto, sendo um desporto de todo o mundo mas, também, de toda a gente, de homens e de mulheres, o Futebol ganhará uma expressão até agora inaudita. De resto, a introdução de novas técnicas na arbitragem contra a ocorrência do erro, eventualmente da fraude, conferirá à modalidade maior crédito, igualmente maior confiança de praticantes e de espectadores. Apesar dos prognósticos mais positivos, o Futebol enfrenta uma séria ameaça: a escalada da violência. Mesmo no domínio da competição, importa recordar que a essência do desporto reside nos valores da tolerância e da entre-ajuda, quer isto dizer que, mais do que a violência ou a derrota, o mais importante é participar e não propriamente vencer como relembrava Pierre Coubertain, fundador dos Jogos Olímpicos modernos. Só assim o desporto contribuirá para a formação física e psíquica de praticantes e espectadores, quer falemos de amadorismo ou de profissionalismo, quer falemos de entretenimento ou de espectáculo.

 

“Ética no Desporto Açores”

 

No propósito de trazer a verdade e o respeito para a prática desportiva, em 2012, foi criado o Plano Nacional da Ética no Desporto, que regista desenvolvimento aqui nos Açores, através da implementação do projecto: “Ética no Desporto Açores”. Infelizmente estamos ainda muito longe da obtenção dos melhores resultados. Basta recordar as acaloradas discussões em torno do Futebol que preenchem as noites televisivas dos canais nacionais, semeando a suspeita, inclusivamente algum ódio. Quer isto dizer que é necessário, urgente, colocar o tema da ética no desporto na agenda da Comunicação Social para que as futuras gerações tragam maior civilidade a todas as competições.


Avelino Meneses enalteceu a decisão da AFH de realizar a Gala na ilha do Pico

Fotografias de: José Feliciano

 

No desenvolvimento do desporto como em todas as modalidades pesam, e muito, os apoios do Governo dos Açores que, na acepção relativa, são muito significativos mesmo no contexto nacional.  Nesta legislatura – ainda não propriamente no fim – foram já mais de 30 milhões de euros investidos na promoção desportiva. Ademais, o montante de 10 milhões, 277 mil, 262 euros inscritos na proposta para o Plano de 2020 na área do Desporto, garantem a promoção da actividade física e desportiva, do desporto federado e também a modernização e manutenção das infraestruturas e equipamentos. Contudo, na sociedade – que queremos mais próspera mas, também, mais independente – não podem os agentes desportivos ignorar os apoios do tecido empresarial nem podem igualmente os agentes económicos desperdiçar a projecção conferida pelo desporto, que é o produto mais vendável em todo o planeta”.

 

“Os Açores são o império da diversidade”

 

A terminar a sua intervenção, o Secretário Regional da Educação e Cultura regozijou-se com a organização deste Aniversário da AFH no Pico e destacou: “A conquista da Autonomia perante o país constitui somente a primeira metade da nossa missão. A parte sobrante consiste na prática da descentralização dentro de portas para que a convivência insular assente cada vez mais em critérios de igualdade. Claro que bem sabemos que os Açores são o império da diversidade, se consideradas as dimensões territorial, histórica, demográfica, económica e até sócio-cultural. Mesmo assim, jamais poderemos desistir da pretensão quotidiana da constituição de uma comunidade de iguais. Essa é uma obrigação de quem faz política aqui nas ilhas. Uma obrigação do Governo como é natural, uma obrigação também das Associações, por exemplo da AFH, que faz política desportiva. Esta é a Associação açoriana de Futebol que congrega mais ilhas. Ao todo são 4: nasceu no Faial, teve por extensão natural precisamente o Pico, que hoje alberga o maior número de clubes, equipas e atletas nas variantes de Futebol e Futsal. Porém, o alargamento da actividade associativa ao grupo Ocidental, às Flores e ao Corvo, também acresceu significativamente a dimensão da AFH. Acréscimo que, para o Portugal futebolístico, ficou muito mais forte com a inclusão nesta Associação de Futebol, do Futsal federado da ilha do Corvo, pese embora o seu escasso efectivo populacional de apenas cerca de 400 habitantes”.

“Relembro o empenho dos Atletas, dos Técnicos, dos Árbitros, dos Directores e dos Clubes de todos os tempos e àqueles que hoje conduzem os destinos da AFH, endereço Parabéns e agradeço o convite”, rematou o governante.

 

Cristina Silveira