Fotografia de: André Silva

Vídeo com os melhores momentos da Festa do Futebol Feminino no FaialVídeo FFF 2020 Faial

Perto de 150 meninas deram cor e vida ao Estádio da Alagoa, no âmbito da Festa do Futebol Feminino (FFF), decorrida na manhã desta sexta-feira, dia 14, na ilha do Faial.

A FFF é uma iniciativa da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) que procura aumentar o interesse e o número de praticantes femininas na modalidade. Na Associação de Futebol da Horta (AFH), este ano a 1ª Fase acontece em momentos diferentes nas ilhas Faial e Pico.

O mote era juntar a diversão à promoção do Futebol no universo Feminino e, a avaliar pelo ambiente, os depoimentos e a boa disposição, podemos dizer que a missão foi cumprida!

Em campo esteve Eugénio Botelho, Técnico do Centro de Treinos de Futebol Feminino da Associação de Futebol da Horta, que desafiou as meninas a experimentarem a sensação de jogarem numa equipa só de raparigas. E parece que o número de potenciais jogadoras vai disparar, provando que, no Faial, o “desporto-rei” também pode ser dominado por elas.

Miguel Mendes: “Elas gostam de jogar Futebol entre si”


Miguel Mendes, Coordenador de Educação Física da Escola Básica Integrada António José de Ávila, da Horta

Fotografia cedida por: Miguel Mendes

“Este é o 3º ano que se realiza a Festa do Futebol Feminino, tendo o convite da Associação de Futebol da Horta sido direccionado ao Grupo Disciplinar de Educação Física da Escola Básica Integrada António José de Ávila, da Horta. Fazem parte do Departamento de Educação Física os professores Márcia Silva, Miguel Mendes, Pedro Cruz, Nuno Pacheco, Elias Machado e Filomena Garcia, sendo o Nuno Pacheco o Coordenador do Desporto Escolar e eu o Coordenador da Educação Física. 

Inicialmente, começámos este projecto com alunos do 5º e 6º anos. No ano passado, optámos por trazer, também, as alunas do 4º ano e este ano acrescentámos, ainda, as do 3º ano.

Esta maior participação resultou da proposta que fiz com o intuito de começar a cativar as meninas do 1º Ciclo para que seja organizada uma equipa a fim de que, quando elas chegarem ao 4º ano, a tarefa esteja facilitada em termos do caminho a ser percorrido no Futebol Feminino. E a verdade é que as crianças aderiram e houve um aumento significativo.

Quero ainda realçar a boa vontade geral em torno da FFF, pois sei que havia teste neste dia e que os colegas decidiram trocar para viabilizar a participação das crianças neste evento.

Na FFF deste ano tivemos cerca de 150 meninas, o que foi um acréscimo exponencial relativamente a 2019, em que contámos com 80 a 90 participantes. Aliás, todos os anos temos assistido a um aumento no número de participantes.

Hoje [14 de Fevereiro de 2020], o 3º e o 4º anos jogaram entre si, tendo acontecido o mesmo com o 5º e o 6º anos. O objectivo final traduz-se no apuramento de uma equipa, que irá defrontar a que for apurada no Pico, igualmente no decorrer da 1ª Fase. Desse confronto sairá a equipa vencedora que irá ao Nacional, no Continente português, em Maio próximo.

As miúdas que vão jogar contra o Pico, o que deve ser mais ou menos daqui a 15 dias, poderão vir a integrar a equipa principal. Estamos a falar de Sub-14 mas também vamos  levar Sub-12, atendendo a que não há número suficiente das Sub-14. Essas é que vão ser apuradas.

No primeiro ano deste evento, o Faial conseguiu apurar uma equipa que foi ao Nacional e que esteve no Estádio do Jamor e num Estágio. No segundo ano, defrontámos o Pico e perdemos, tendo o Pico participado no Nacional. Este ano vamos ver quem será o vencedor.

Elas gostam de sair e de jogar Futebol entre si. No 5º e 6º ano já leccionamos o Futebol em Educação Física e também nas actividades desportivas.

Nota-se que as meninas estão a aderir devido à sua motivação para participar, o que é feito tanto por nós, na Escola Básica Integrada António José de Ávila, da Horta, como pela Associação de Futebol da Horta, que tem um Centro de Treinos de Futebol Feminino - FIFA Academy” visando, precisamente, o incremento e a dinamização deste desporto entre elas”.

“Clubes devem aproveitar esta oportunidade para criar equipas femininas”   

“Aproveito esta oportunidade para chamar a atenção dos Clubes que têm nestas meninas muita massa humana para o Futebol. Estamos a falar de muitas crianças que precisam de ser trabalhadas. Se temos tantas raparigas nesta Festa, é porque elas querem jogar Futebol, contando com o apoio dos pais, o que é muito importante! E os Clubes devem estar atentos, uma vez que há apoios para a dinamização do Futebol Feminino a nível de contratos-programa, o que pode funcionar como uma ajuda para os próprios Clubes.

A FFF é uma experiência muito positiva que vai ter continuidade, deixando perceber que as raparigas jogam melhor com raparigas. Sentem-se mais soltas e não têm medo das boladas”.

Eugénio Botelho: “A FFF serve, essencialmente, para observar, sensibilizar e captar novas jogadoras”

Eugénio Botelho, Treinador da “FIFA Academy”, posou para a fotografia com um grupo de meninas que participou na Festa do Futebol Feminino 2020, no Faial

Fotografia de: André Silva

“Este evento correu bem. Reparei nalguns talentos. Para o Gabinete Técnico e Centro de Treinos de Futebol Feminino da AFH - “FIFA Academy”, a Festa do Futebol Feminino serve, essencialmente, para observar, sensibilizar e captar novas jogadoras. Há alguma adesão à possibilidade de ingresso na “FIFA Academy”, mas claro que o mais importante é a promoção do Futebol Feminino e possibilitar às meninas esta experiência para elas começarem a jogar e a ganhar interesse e gosto pela modalidade.

Também vai haver uma 1ª Fase no Pico, ilha onde a adesão costuma ser muito boa. Há, igualmente, muitos talentos no Pico e a Daniela Santos é uma prova disso. Naturalmente que esta jogadora, que actualmente se encontra no Benfica, constitui uma referência e um incentivo para as colegas.

Por vezes, algumas meninas referem o medo que têm de levar com a bola pelo facto de ser muito dura mas é tudo uma questão de mentalidade e de hábito, porque não há nada na anatomia feminina que impeça a prática e a execução dos gestos técnicos como em qualquer rapaz.

A FFF deixa-as mais à vontade por se tratar de jogos só entre meninas, se bem que no Futebol misto essas diferenças em termos de força e de agressividade só começam a registar-se a partir dos 12/13 anos de forma um pouco acentuada. Até aí, verifica-se precisamente o fenómeno contrário, tendo em conta que o salto pubertário das meninas dá-se mais cedo do que nos rapazes e muitas vezes elas são mais agressivas e têm capacidade física superior aos rapazes”.

“FFF contribui para quebrar tabus”

“É tudo uma questão cultural e de mentalidade e iniciativas como a Festa do Futebol Feminino contribuem para a quebra de alguns tabus, suscitando o interesse delas para a modalidade. Ainda há muitas ideias pré-concebidas mas sem dúvida que eventos como a FFF são excelentes para ir mudando esse paradigma.

E no que toca ao Centro de Treinos de Futebol Feminino da Associação de Futebol da Horta, gostaria de sublinhar que contamos com o apoio inequívoco dos pais, que estão  enquadrados e percebem perfeitamente as necessidades da “FIFA Academy”. Vejo-os como parceiros e aliados no incremento do Futebol no universo Feminino, uma realidade bem presente e com grandes resultados a nível nacional e mundial”.  

Beatriz Dias: 10 anos - 5º ano de escolaridade

“Esta foi a primeira vez que participei na Festa do Futebol Feminino e foi muito divertido. Sem dúvida, que é para repetir!

Vale a pena participar para nos divertirmos e não apenas para ganhar, além de que é uma oportunidade para melhorar o Futebol.

Correu bem e gostei desta experiência nova, uma vez que nunca tinha jogado Futebol antes. Já pratico outros desportos mas também gostava de experimentar o Futebol, pois, acho que tanto dá para os rapazes como para as raparigas”.

Sara Mendonça: 11 anos - 6º ano de escolaridade

“Já joguei Futebol na Escola e hoje, na Festa do Futebol Feminino, correu mesmo bem. Gosto muito disto e da minha equipa. Foi giro! As meninas foram meigas, pelo menos na minha equipa, que ganhou, e de que faziam parte a Amélia, a Inês, a Marisol, a Liene e a Liana.

Acho que o Futebol pode ser também para as raparigas, embora os rapazes tenham mais possibilidades e mais força, mas, mesmo assim, penso que as raparigas deviam participar mais, pois, também têm jeito para isto.

Apesar de já praticar Karaté, Basquetebol, Ballet e aprender Música, estou disposta a fazer uma experiência no Futebol Feminino na Associação de Futebol da Horta”.

Rita Silva, Sabrina Furtado e Elisabete Monteiro poderão figurar entre as novas caras da “FIFA Academy” da Associação de Futebol da Horta

Fotografias de: Cristina Silveira

Sabrina Furtado: 11 anos - 6º ano de escolaridade

“Já o ano passado participei na Festa do Futebol Feminino e gostei! Não estava a pensar vir mas a minha mãe incentivou-me e disse que eu poderia dar-me bem e então marquei os golos da minha equipa e comecei a ver o Futebol de uma maneira diferente. Gostei mais deste ano, porque tenho mais experiência e tive um tipo de contacto diferente com pessoas que sabem jogar muito melhor.

Acho que esta Festa deve continuar. Se estamos no desporto em que nos damos bem e gostamos, devemos continuar. Se nos esforçarmos, poderemos vir a ser boas jogadoras.

Já treinei com rapazes, no Atlético, há 2 anos, mas a equipa desfez-se. Os rapazes são brutos mas eu era tratada como se fosse um deles e gostava disso, porque às vezes os treinadores tendem a tratar os rapazes de maneira diferente das raparigas por acharem que eles jogam melhor do que elas. Mas as raparigas podem sempre vir a ser boas jogadoras.

É divertido jogar Futebol e mesmo já tendo muitas modalidades, vou esforçar-me para passar a ir aos treinos da “FIFA Academy”, da Associação de Futebol da Horta, pois o Treinador Eugénio Botelho esteve a convidar-nos. Vou pensar com carinho neste convite e falar com a minha mãe. Tenho a semana preenchida, mas se gostar mesmo do Futebol, vou fazer por isso, pois agora na Associação sei que há raparigas em número suficiente para fazermos uma equipa só no feminino.

Nunca pensei numa carreira no Futebol, porque a forma como me vejo é a rapariga que tem medo de jogar e de levar com a bola na cara, mas isso pode mudar”.

Rita Silva: 12 anos - 6º ano de escolaridade

“Esta é a segunda vez que participo nesta Festa e posso dizer que foi diferente, porque já tenho mais experiência. No ano passado joguei mais com as minhas amigas e este ano com pessoas diferentes e foi fixe! Tenho um bocadinho de medo de levar com a bola, porque as bolas são duras.

Já jogo Futebol nas aulas de Educação Física com os rapazes, o que se torna mais violento. No entanto, as raparigas que jogam melhor e que têm mais força, também já são brutas.

Quanto ao convite do Treinador Eugénio, vou falar com a minha mãe para saber se ela me autoriza a integrar a “FIFA Academy”, pois, se fosse por mim, já estava lá!

Tenho outros desportos e Explicação mas se gostar mesmo, vou fazer um esforço para jogar Futebol. E se resultar, talvez possa vir a pensar numa carreira. Quem sabe! Vejo aquelas jogadoras da Inglaterra e admiro-as! Tenho a certeza de que se me esforçar muito, poderei conseguir chegar mais longe”.

Elisabete Monteiro: 11 anos - 6º ano de escolaridade

“Já é a segunda vez que participo na Festa do Futebol Feminino e gostei mais do ano passado, porque joguei mais tempo.

Jogo Futebol nas aulas de Educação Física, com os rapazes, e eles são mais brutos do que as raparigas. Por isso, gostava de jogar só com raparigas. Como tal, vou pensar no convite feito hoje para ir jogar no Centro de Treinos de Futebol Feminino da Associação de Futebol da Horta.

Já pensei em jogar Futebol a sério e poder vir a ser uma jogadora mas sei que para isso tenho de treinar muito. Muitas vezes quando olho para as jogadoras profissionais, na televisão, penso que também queria ser assim. A minha mãe diz que posso experimentar e que se praticar sempre posso vir a ser uma grande jogadora.

O convívio também é bom. Conhecemo-nos todas da Escola e o facto de ser só raparigas é diferente. Gostei!

No ano passado fui seleccionada e joguei contra as do Pico e foi difícil, porque algumas jogam bem, mas também dão muitas caneladas!”

 

Cristina Silveira