A picoense Daniela Areia Santos é a nova cara da equipa Sub-19 de futebol feminino do Sport Lisboa e Benfica para a temporada 2019/2020. O contrato da média de 15 anos é válido por 3 épocas, havendo a esperança de uma renovação futura. Convidada a falar desta experiência no “maior clube de Portugal”, esta jovem recorda os primeiros passos, dados no clube da sua terra: o Prainha Futebol Clube de São Roque do Pico, nos Açores.

 

Cristina Silveira

 

Na entrevista concedida ao Departamento de Comunicação e Marketing da Associação de Futebol da Horta (AFH), Daniela recorda que começou a jogar em criança (6/7 anos) e tem no futebol “uma paixão”. Sendo o Benfica o seu “clube do coração”, é natural que não caiba em si de contentamento por esta oportunidade. No entanto, como quer mesmo fazer carreira no mundo do futebol, confessa que “se o convite tivesse partido de outro grande clube, também aceitava”. “Mas assim foi muito melhor, pois sempre fui fanática pelo Benfica”, salienta.

O futebol entrou na vida de Daniela por influência directa dos pais. “O meu pai [Elmiro] já jogou no Prainha e sempre me incentivou a praticar este desporto. Minha mãe [Elza Areia] também gostava de jogar e chegou mesmo a fazer umas partidas com colegas e primas. Desde pequena que as nossas brincadeiras eram à volta de uma bola. Havia quem achasse estranho, pois, para alguns, não era normal uma menina ser tão viciada em futebol”, explica a jovem jogadora que, a propósito, esclarece: “Nunca tive essa noção e opiniões dessa natureza jamais me perturbaram ou fizeram parar. Entendo que, nos dias de hoje, está mais do que provado que o futebol é para ambos os géneros. Abundam os casos de sucesso de inúmeras atletas.

Tenho um irmão [Matias], com 10 anos, que também começou pelo Prainha mas há 2 épocas que veste a camisola do Vitória Futebol Clube”.


“Sempre joguei com rapazes e é com satisfação que afirmo que nunca senti diferenças”

O novo reforço da equipa Sub-19 de futebol feminino do Sport Lisboa e Benfica diz que “sempre” defendeu as cores do clube da sua freguesia, onde “havia condições” para a prática do futebol. E é com grande sinceridade que revela os elogios recebidos. “Sempre joguei com rapazes e é com satisfação que afirmo que nunca senti diferenças. Sempre me respeitaram, ajudaram e apoiaram. A amizade entre nós é muito boa. Nunca questionaram o facto de eu praticar esta modalidade. Aliás, reconheceram que eu tinha jeito para o futebol e que ajudava a equipa. Desde pequenina que jogava a meio campo mas, por vezes, conforme os jogos, era colocada noutras posições”.

Nos últimos 2 anos, Daniela contou com mais um elemento feminino na sua equipa: a Mariana, também do Pico. “Foi muito bom ter uma menina a jogar connosco pois, mesmo compreendida, nem sempre foi fácil estar rodeada só por rapazes. E todos aceitaram bem esta nova jogadora, atendendo à experiência que já tinham comigo. Eles foram fantásticos!”

 

Chamadas à Selecção

 

Daniela foi chamada às Selecções Sub-15 e Sub-16, contando no seu palmarés futebolístico com 4 internacionalizações por Portugal, tendo marcado um golo contra o país de Gales. Também representou a Associação de Futebol da Horta no Torneio Feminino Inter-Associações, com a particularidade de, no Pico, sempre ter jogado em equipas mistas.

Além disso, também já tinha realizado diversos estágios, sendo sempre observada pelo Benfica, pelo que este desfecho foi um processo natural decorrente deste percurso.

“Em Setembro último, fiz um estágio em Viana do Castelo, a convite do Benfica, com o propósito de voltar a ser observada e, a partir daí, a treinadora abordou-me e falou das condições”.


“Aqui não há estrelas mas raparigas que estão a aprender a jogar”

 

Perseguir o sonho implicou uma mudança total na vida desta jovem obstinada, de apenas 15 anos de idade. “Tenho encontrado bons colegas na escola e na equipa [mas com pouco conhecimento da realidade açoriana] o que facilitou a minha integração, pois, como cheguei já depois do ano lectivo ter arrancado, tive de recuperar a matéria dada. A equipa é muito unida e aqui não há estrelas mas raparigas que estão a aprender a jogar”.

Daniela encontra-se no 10º ano de escolaridade, área de Ciências, e gostava de enveredar pelo Curso de Fisioterapia ou “algo relacionado com Medicina”. Mesmo que venha a ter um futuro no “Glorioso”, garante que pretende ter formação superior.

O facto de residir mesmo ao lado da academia – num apartamento com 2 colegas e a ‘Mister’ – é algo que ajuda na organização do tempo. “O Benfica exige atenção à escola e como tenho treino intenso 3 vezes por semana, chego a casa cansada. Os treinos são à noite, pelo que tenho de estudar antes. Mas é tudo uma questão de concentração e gestão do tempo. Sei que vou habituar-me a este ritmo, tendo em conta que quero mesmo muito defender as cores do Benfica. As novas experiências ajudam-me a ser desenrascada e independente. Claro que foi difícil deixar a vida que tinha no Pico e, sobretudo, a minha família mas surgiu esta oportunidade de praticar futebol num grande clube e tive de agarrá-la. Tenho a certeza de que este projecto vai dar os seus frutos”.

 

Apoio da família e do Treinador Paulo Pereira

 

“Sempre contei com o apoio da minha família, que se sente muito orgulhosa de mim, assim como os meus primos, tendo recebido muitas mensagens de felicitação. Os colegas de escola apoiaram-me na minha decisão, sendo certo que esta separação foi difícil para mim e para eles.

Também queria destacar o acompanhamento dado, ao longo dos anos, pelo meu antigo Treinador, Paulo Pereira, que se mostrou sempre disponível para me ajudar. Foi das pessoas que mais me apoiou e continua a apoiar!”

Daniela considera que o seu percurso tem a ver com “trabalho e talento” e que a principal responsável por hoje se encontrar ao serviço do Benfica – “o sonho de sempre!” – é a sua ‘Mister’: Filipa Patão.

Pertencendo ao clube da Águia, esta mulher do futebol, que carrega a honra e a raça do Povo Açoriano, poderá agora conhecer bem os cantos à “casa”. “Apenas tinha visitado o Estádio e o Museu. É muito bonito poder ver de perto e com tempo tudo o que o Benfica ganhou, a beleza natural do estádio e conhecer a sua história”.

 

Daniela é motivo de orgulho

 

Depois de ouvirmos Daniela Areia Santos, conversámos com o pai, Elviro Santos, que diz ter sido a falta de condições que o levaram a abandonar o futebol quando chegou aos Seniores. No entanto, “sempre” acompanhou “muito o desporto”. “Desde pequenina que a Daniela gosta de jogar e via comigo os jogos no campo e na televisão. “Por causa dela, tive mesmo de instalar a Benfica TV”, conta.

“Embora seja adepta do Prainha desde sempre, “sabe ser crítica quando tal se impõe, mostrando-se racional nas suas apreciações”, frisa Elviro Santos.

"A Daniela representa um orgulho muito grande para a família e recebeu muitas mensagens de pessoas a felicitá-la, incluindo clubes rivais, além de árbitros, amigos, etc”.

Jeremy Maiato foi o primeiro treinador de formação de Daniela Santos, de onde veio apoio, assim como do último, Paulo Pereira. Aliás, “o Paulo sempre a acompanhou em campo e fora do campo, incluindo na 1ª chamada à Selecção e no decorrer de um estágio”.

Além do Futebol, o Atletismo também marcou presença na vida desta atleta desde o tempo de criança. A Daniela pertencia ao Clube de Atletismo da Escola de São Roque, foi aos Jogos Desportivos e recebeu muitos troféus tendo, inclusivamente, sido Vice-Campeã federada de Corta-Mato.

Daniela Areia Santos também integrou o Grupo Folclórico da Prainha, era acólita e frequentava a Catequese mas mesmo com uma vida muito preenchida “nunca dizia estar cansada”.